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Alcoolismo: Doença silenciosa

Em 2012, a Rede Globo de Televisão exibiu a novela “Avenida Brasil”, que foi um tremendo sucesso de audiência e de faturamento para a emissora. Nos últimos capítulos, o país parou pra ver que fim teriam Max, Carminha, Nina, Tufão e os demais personagens da novela. Estima-se que mais de 80 milhões de pessoas assistiram ao desfecho da trama.

Você já deve estar pensando em o que pode haver de estimulante em escrever sobre uma novela já terminada… Afinal, já sabemos o que aconteceu, mas, para entendermos o presente e nos prepararmos para o futuro, é necessário estudar o passado. O fato é que, no decorrer dos capítulos, notava-se um franco estímulo ao consumo de álcool, já que boa parte do elenco aparecia consumindo bebidas alcoólicas constantemente. Se algo de bom ocorresse, bebiam pra comemorar; se algo de ruim acontecesse, bebiam por estarem tristes. Se a mulher aparecesse com outro homem ou vice-versa, bebiam para afogar as mágoas. No final dos dias, quando se mostravam cansados, bebiam pra relaxar e assim seguiu a trama toda: regada de bebida alcoólica.
 
Infelizmente, o Brasil talvez seja o único país onde a novela e seus personagens trazem tanto entusiasmo. No auge da novela, os atores principais conseguem vender até areia no deserto e, quando se vende areia no Saara, é um péssimo sinal. 

Não queremos ser tidos como os “puritanos de plantão”, mas não nos podemos enganar com os excessos de fatores que desgastam a sociedade, vinculados ao lobbie ou ao poder econômico das empresas de bebidas, que, por sinal, é muito forte. 

Talvez precisemos de um S.O.S alarmista para mostrar que a sociedade caminha para um precipício. Atualmente, estamos presenciando milhares de “acidentes” no trânsito com pessoas embriagadas, e muitos inocentes pagam junto a conta da irresponsabilidade de pessoas altamente enganadas por imagens e jingles viciantes. As empresas vêm amargando enormes prejuízos com faltas injustificadas de seus colaboradores, que estão relacionadas ao alcoolismo e de que decorre a redução de rendimento no trabalho. Milhares de famílias se desfazem por terem o alcoolismo como o principal protagonista. Mulheres são violentadas, filhos são espancados, vizinhos se matam e as ações dos fabricantes de bebidas na bolsa de valores continuam a subir. Jovens não conseguem se divertir se não tiver o álcool como combustível estimulante. E esse ingrediente faz parte do “elenco” dos condimentos necessários para a maioria dos encontros, como churrascos e aniversários.
 
Não podemos tapar o sol com a peneira, já que atualmente não é preciso ocasião ou data especial para se consumirem bebidas alcoólicas. Todo dia tem sido dia pra isso! Percebemos a verdadeira importância da saúde física e mental quando deparamos com uma doença grave, que desgasta o ser humano pelos procedimentos e consequências de uma recuperação dolorosa, quando esta milagrosamente ocorre, porém excepcionalmente o mal do alcoolismo está camuflado na sociedade. Poucos o enxergam como uma grave doença. O problema, que não é ficcional, mascara-se por falsas sensações de euforia e por interesses econômicos de uma fatia privilegiada da sociedade. Precisamos acordar enquanto é tempo!
 
*Marçal Rogério Rizzo é economista e professor e Pedro Fernandes Porto Neto é acadêmico de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas