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Ali-Babá, finalmente!

Desde que deixou a Presidência da República em 2010, Luiz Inácio Lula da Silva tem empenhado esforços de toda natureza para desmentir a existência do Mensalão e seus afluentes, escândalos de corrupção de incomparável monta na história do Brasil. Nessa jornada inglória, chegou a receber R$ 200 mil por cada palestra e colecionou títulos e honrarias de universidades prestigiosas. Balizado pelos institutos de pesquisa que lhe garantem supostos 80% de aprovação popular, chegou ao cúmulo de tentar capitalizar politicamente até com suas piores tragédias pessoais, crédulo do recheio solidário em demasia que compõe a massa de caráter do povo brasileiro.
 
Mas, como revela a máxima de Abraham Lincoln, “não vos será possível enganar a todos, todo o tempo”. Fiel depositário de uma doutrina anacrônica, onde os interesses de um grupo ou ideologia poderiam suplantar a coletividade e até os conceitos democráticos mais elementares de uma nação, Lula da Silva fez aquilo que é especialidade do Partido dos Trabalhadores: imbuiu-se da arrogância dos desqualificados e acreditou ser o dono da cartada final do jogo, à véspera do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal de seus 40 ladrões-companheiros (e já não são 40, porque a Justiça brasileira é boazinha!).
 
A última carta do ex-presidente começou a ser revelada com o vazamento seletivo dos grampos telefônicos da Polícia Federal, objeto das operações Vegas e Monte Carlo, que levaram o bicheiro Carlinhos Cachoeira à cadeia e atingiram no peito o senador goiano Demóstenes Torres, um dos ícones da oposição fajuta, e alguns minguados deputados federais. Em seguida, sob a batuta de Lula da Silva e com apoio da maior base aliada das democracias ocidentais, foi fermentada a criação de uma CPI com dois alvos preferenciais de desqualificação: a Procuradoria-Geral da República, que abriu fogo contra os mensaleiros de outrora, mas agora preferira arquivar o resultado das investigações da Polícia Federal mesmo diante de graves indícios envolvendo peixes graúdos; e o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, que nunca foi perdoado por ter desmentido o então presidente quanto à sapiência de corrupção em sua gestão.
 
Por tabela, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito serviria de instrumento político-social para fuzilar setores da imprensa brasileira que nunca se renderam por completo aos afagos e cifrões do presidente-metalúrgico e dos ideais ultrapassados de foice e martelo. Fazendo valer metáforas pedestres, o senador alagoano Fernando Collor de Mello foi escalado para vestir a atacante camisa 10 e cobrar sucessivas faltas à boca do gol contra o time da revista Veja, que, em tese, seria responsável pelo cartão vermelho que o expulsou de campo 20 anos atrás.
 
Tudo parecia perfeito para Lula da Silva e sua turma. Mas a nova era digital é assim: a informação horizontal explode descontrolada e desordenadamente. Eis que alguém bradou: “Abre-te Sésamo”. Da caverna escura na República Cachoeirense não apenas voaram tucanos e morcegos de estrela no peito, mas escapuliram cobras, jacarés e elefantes. Diariamente são revelados escândalos de toda sorte (ou seria azar?!): de safadezas bilionárias da maior empreiteira do PAC até infames festas de lenço na cabeça do governador-olímpico. De agora em diante só há duas alternativas: ou a casa vai cair de vez (que é bastante improvável); ou PMDB e PT vão abafar a CPI aos gritos de “Fecha-te Sésamo”.
 
De toda forma, a grande questão posta desde os tempos da descoberta do Mensalão parece claramente respondida. Os 40 ladrões foram enquadrados pela Justiça e até o chefão da gangue está desesperado com a possibilidade do xilindró. “Mas e o Ali-Babá?”, perguntavam os cidadãos sérios deste país. Eis que o tal Ali-Babá, que conseguira escapar do trágico e falido Código Penal Brasileiro, não resistiu ao julgamento da mais poderosa de todas as legislações: o Tempo.
 
“Ali-Babá-Lula-Lá” foi traído, incrível que possa parecer, por um togado ministro do STF. Gilmar Mendes revelou à revista Veja e ao Brasil que o ex-presidente Lula da Silva tentou chantageá-lo em “reunião sigilenta”, como diria o extraordinário Odorico Paraguaçu de Dias Gomes. Conforme declarações do ministro Gilmar (atestadas por outras togas), Lula também estaria tentando achacar outros ministros da Suprema Corte do país, incluindo seu novo presidente, Carlos Ayres Britto, exigindo o adiamento do julgamento do Mensalão. Em troca, trajando a indumentária de controlador da CPI do Cachoeira, o ex-presidente estaria oferendo blindagem política.
 
As tenebrosas violações de Lula da Silva, reveladas pelo ministro Gilmar Mendes, são bem mais graves que o próprio Mensalão. Trata-se do maior atentado à democracia e ao estado de direito desde o Golpe Militar e as páginas históricas, misteriosas e sangrentas que lhe sucederam. Com Ali-Babá e seus crimes de lesa-pátria finalmente revelados, devemos manter todas as guardas levantadas a partir de agora, pois dias difíceis e sombrios se agigantam no horizonte do Brasil.

HELDER CALDEIRA
Escritor, Jornalista a Apresentador de TV