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Almas penadas

O TSE acaba de cassar o segundo governador este ano, Jackson Lago, do Maranhão. O Senado derrubou o seu diretor-geral, Agaciel Maia, por ter uma casa avaliada em R$ 5 milhões não declarada ao fisco. Na Câmara, a Corregedoria corre atrás de Edmar Moreira, o do castelo, e está sendo formada a Frente Anticorrupção, embalada pelo discurso do senador Jarbas Vasconcelos contra a transformação do Congresso numa casa de "atravessadores".
Há, portanto, uma saturação de escândalos, denúncias, desmandos de toda ordem que sacode a letargia e tenta articular a contraofensiva. Agindo. Político age botando a boca no trombone. Tribunais agem julgando. A imprensa age divulgando tanto os desmandos quanto as contraofensivas. Isso gera uma lufada de otimismo, uma sensação de que, apesar de tudo, as coisas podem melhorar. E muito.
Mas o resultado não pode ser um monte de almas penadas assombrando castelos e instituições…
O TSE cassou Cássio Cunha Lima na Paraíba e entrou José Maranhão, que convive com oito processos. Também cassou Lago, mas isso significa o retorno da família Sarney, que manda no Maranhão há meio século e o resultado é um dos piores, se não o pior IDH do país. Ou seja: Maranhão na Paraíba, Sarneys no Maranhão, e tudo fica onde estava.
No Senado, Agaciel cai, mas ninguém explica, nem justifica, como ele entrou ali como datilógrafo, sem concurso, e amealhou uma fortuna desse tamanhão. Vai embora da direção-geral, mas fica no Senado até a aposentadoria –integral!– daqui a dois anos. Você aí, hein!, em vez de estudar tanto, deveria ter feito é um bom curso de datilografia.
Na Câmara, ocorre mais ou menos o mesmo: o deputado Edmar Moreira cai da Vice-Presidência e em consequência da Corregedoria, mas continua deputado, co mo se nada tivesse acontecido, e com o seu castelo inexplicável. Nosso único consolo é que aquilo é horrendo!
E, se Jarbas Vasconcelos não está mais falando sozinho, a sensação é de que os que o apoiam são sempre os mesmos: Marco Maciel, Sérgio Guerra, Pedro Simon, Fernando Gabeira, Rafael Guerra, Gustavo Fruet, Arnaldo Madeira…
Em sendo assim, a Frente Anti-Corrupção fica com cara de Frente de Oposição, o que não é bom. Ciro Gomes, adere! Aloizio Mercadante, adere! Beto Albuquerque, adere! Gente boa do PT, do PSB, do PDT, do PMDB, do PC do B, vai nessa!
Partidos são importantes por definição. Mas a hora é tão crítica que a reação não deve se perder em discussões menores, deve transcender as disputas partidárias e realmente focar na instituição, símbolo da democracia. Até porque, meus caros governadores, senadores e deputados, o povão não está olhando siglas, está olhando intenções e ações. Aliás, foi justamente por isso que não citei aqui nenhum partido dos citados. Ou a reação é suprapartidária, ou não vai a lugar nenhum.

Eliane Cantanhêde é jornalista e colunista de política