Kofi Annan, ex-Secretário Geral da Organização das Nações Unidas e idealizador do Pacto Global, do qual o Secovi-SP é signatário, não se cansa de afirmar que dois grandes problemas colocam a sobrevivência da humanidade em risco: as mudanças climáticas e os nossos padrões de produção e consumo, que estão muito acima da capacidade de reposição da biosfera.
Para um País como o Brasil, que ainda tem um consumo per capita baixo, isso traz desafios enormes. Como incluir os brasileiros que se encontram muito abaixo de um padrão de vida minimamente aceitável, sem agravar os problemas apontados por Kofi Annan?
A geração e a transmissão de energia elétrica têm de ser muito ampliadas no Brasil, sob o risco de enfrentarmos um novo apagão. A questão central é como poderemos aumentar essa oferta sem “sujarmos” a nossa matriz energética. O Plano Decenal de Expansão de Energia do Ministério de Minas e Energia (PDE 2008-2017), publicado em 03/08/2009, caminha no sentido contrário: aumenta a participação das usinas termoelétricas, altamente poluidoras e geradoras de gases de efeito estufa.
A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo. Cerca de 30% vêm da biomassa (cana, lenha e carvão vegetal), 54% do petróleo, gás natural e carvão mineral e cerca de 20% da hidroeletricidade. Portanto, menos de 1% vem de outras fontes como nuclear, eólica e solar.
Na geração de energia elétrica é que o Brasil se destaca positivamente. Cerca de 80% é originada em fontes renováveis, enquanto que a média mundial corresponde a 15,6%.
Estudos apontam que o Brasil pode reduzir em cerca de 50% a sua necessidade de ampliação da oferta de energia elétrica. Podemos diminuir em 30% o consumo com programas de conservação (e o apagão de 2001 demonstrou que isso é perfeitamente possível), 10% com a repotenciação de usinas existentes e mais 10% com a redução de perdas nas linhas de transmissão.
Olhando o campo dos combustíveis líquidos, temos também possibilidades fantásticas. O etanol brasileiro (da cana de açúcar) compete muito menos com a geração de alimentos do que o americano, principal produtor mundial, feito a partir do milho.
Um dado que impressiona é o do potencial brasileiro de energia eólica onshore, ou seja, no território continental, estimado em 143 GW, maior que toda a capacidade hidrelétrica atualmente instalada.
O mesmo acontece em relação à energia solar em energia elétrica. Se fosse possível cobrir um quarto da área do lago da usina de Itaipu com painéis fotovoltaicos, a energia gerada seria maior do que a atualmente produzida.
As edificações residenciais, comerciais e públicas respondem por 45% do consumo de energia elétrica no Brasil. O setor imobiliário tem uma parcela importante de responsabilidade na redução desse consumo. Isso já está acontecendo, tanto nas novas edificações, que incorporam tecnologias que aumentam a ecoeficiência, como na operação dos edifícios existentes, nos quais medidas visando à economia de água e energia já vêm sendo implantadas.
Só não construiremos um país maravilhoso se não formos competentes. Podemos criar e implementar um programa nacional de desenvolvimento sustentável que realmente faça do Brasil uma potência mundial economicamente vigorosa, socialmente justa e ambientalmente equilibrada.
Aron Zylberman é assessor da presidência da Cyrela Brazil Realty e membro da vice-presidência de Sustentabilidade do Secovi-SP
Opinião