Por mais irrefletida que seja uma atitude, o bom caminho sempre se apresenta ainda que na intuição, faculdade mal compreendida. Talvez sejamos destinados ao altruísmo ao contrário do que pensam os que se especializaram em semear agonia e discórdia.
Luta pela sobrevivência num capitalismo decadente? Ou convicção de que não prestamos conta de nossos atos? A humanidade não regride. O que acontece é que um número maior de seres predadores concentra-se no mesmo perímetro sufocado, o planeta Terra. O aumento populacional tem transformado esta esfera num lugar insuportável.
Logo não haverá natureza que resista às negligências: derramamento de óleo pela British Petroleum no Golfo do México desde abril de 2010 (que parece haver sido estancado), inundação de cidades inteiras (como Branquinha, no nordeste brasileiro), e contaminação atmosférica em regiões onde há poucos anos se podia respirar saudavelmente.
Ao passo que cada um detém a sua verdade, quem garante que a ideia de altruísmo não sofra variações? A filantropia tem base noutro estado de espírito que o que envolveu a presença interesseira de alguns países no Haiti. O amor verdadeiro implica desprendimento.
Não é possível avançar sem refletir sobre o acúmulo de contradições e dilemas que a História nos herdou. Qualquer tentativa de construir sobre processos inacabados é estéril, portanto.
EUA se crê promotor de justiça mundial quando a secretária de Estado Hillary Clinton declarou, numa de suas viagens internacionais, que, enquanto o presidente Barack Obama se compromete com a democracia e os direitos humanos, Bielorrússia, Cuba, Irã e Venezuela desrespeitam os direitos humanos.
Se começassem a avaliar os direitos humanos em seu próprio quintal, os próceres dos governos euânus já estariam atados judicialmente. Lástima que há coisas que os países terceiro-mundistas costumam venerar dos EUA, enquanto outras sequer funcionam por lá, por isso se as ignora em vez de enaltecer caminhos que seguimos melhor pela América Latina.
Pelo mundo afora, países enfrentam desacertos. O presidente equatoriano Rafael Correa, antes da vitória de Juan Manuel Santos como novo mandatário da Colômbia, havia demonstrado preocupação em vez de segurança caso Santos vencesse devido à forma de conduzir a guerra civil colombiana envolvendo a guerrilha, tão próxima do território de Equador. O receio se deve a que Juan Manuel Santos é visto como sucessor de Álvaro Uribe.
Houve resistência, noutra ocasião, à exploração de minas de ouro no norte de Costa Rica, numa região chamada Las Crucitas e a poucos quilômetros da fronteira com Nicarágua. Organizações de interesse público temem que as minas poluam as águas e afetem a natureza, cuja beleza não encanta a todos ao que tudo indica.
Tentam dar-nos razões para acreditar que os problemas acontecem em qualquer parte do mundo menos nos EUA, país da dissimulação. O desemprego elevado na Espanha e as greves na Grécia abalam a União Europeia e reiteram o impacto da crise financeira mundial.
O México hospeda um confronto que mostra a podridão de seu sistema político e o domínio do narco-dinheiro, verde como a cor do dólar. Nas eleições de julho de 2010 para governadores em doze estados, pessoas deixaram de votar para não se expor à violência incessante ou porque não acreditam nos candidatos.
De um extremo a outro da América Latina, os países assistem a espetáculos de um altruísmo às avessas. Pessoas fingem que amam o próximo enquanto o mundo se esfarela.
Um dos espetáculos que emocionaram foi a recepção afetiva e carinhosa dos argentinos ao regresso da equipe de futebol daquele país. Ainda que não tenham vencido na Copa do Mundo, a mensagem foi a de que se tratava somente de um jogo (um dia se ganha, outro se perde) e o mais importante é o ânimo para superar novos desafios.
O mundo precisa de trabalhadores e não necessariamente heróis, ainda que de última hora.
Leitor, chegou o momento de reconhecer que você não é só um número como insinuam as estatísticas. Busque o altruísmo. Sua atitude faz a diferença.
Opinião