Que tão intensa é a nossa relação com o ambiente? Hipóteses: em casa, o cachorro late, o familiar grita e o outro ouve música; no trabalho, o telefone toca insistentemente e o patrão repreende; no campo, os pássaros cantam, o córrego flui e o vento sopra; na cidade, a correria nas ruas, o congestionamento no trânsito, o som das buzinas, gente apressada, blocos de concreto e objetos de publicidade dominam o visual. Da mesma forma que nos inserimos no ambiente, às vezes buscamos sair dele.
Vejo a sobreposição de cômodos entre os edifícios e as formas distintas de convivência praticamente no mesmo espaço. Assim é o visual: prédios comerciais de luxo em cuja entrada está o vendedor de discos piratas ou comida barata; uma escola de idiomas que se separa de um consultório médico por uma simples parede; esconderijos ou o porão da casa como anexos ocultos; e finalmente me impressiona que possa haver parques ecológicos rodeados por uma cidade grande ou por um canavial.
Ouço o motor de automóveis quase como uma orquestra de fundo. Não posso deixar de mencionar que o eco da vizinhança soa constantemente apesar dos meus esforços para conter o volume externo. Pessoas que passam conversando todo o tempo no corredor da unidade habitacional onde eu moro, crianças contando seus chistes entre elas, os vendedores de água e o reparador de cortinas, e o que atende o celular diariamente na janela do seu apartamento porque até aí chega o sinal.
Cheiro de cidade grande é estupefaciente e inebriante. Em algumas ocasiões, porém, alcança-me o aroma do bolo que o vizinho prepara, do charuto que o avô fuma ou dos vestígios de uma ração saborosa que o animal de estimação já digeriu e dejetou. Qualquer ambiente sempre oferece opções vastas de experimentação que variam em função de onde nos inserimos e como nos deslocamos nele. Seja no campo ou na cidade, em casa ou no transporte, dentro ou fora de algum lugar.
Sinto o sabor do ambiente e tateio-o para ver se é de verdade. Há os que não crêem nem vendo; começam a acreditar quando escutam; aceitam quando cheiram; e se conformam quando tocam a concretude. O ambiente, no entanto, determinamo-lo, por uma parte, e aceitamo-lo como é, por outra. Se o sol está forte, fecha-se a cortina; se o trânsito está pesado, liga-se o rádio para distrair; se a vizinha é bonita, espia-se pela janela. Neste caso, faltou algum sentido para atravessar os limites das paredes.
Apuremos os sentidos. Assim a experiência poderá ser outra: mais envolvente. No início deste texto tridimensional, ou quadridimensional se o leitor também participa, falei que nos esforçamos para tanto entrar no ambiente quanto para sair dele. Tenho mania de expor imagem e som com palavras. Aqui é questão de espaço. Reivindique o seu.
Bruno Peron Loureiro é analista de desenvolvimento e relações internacionais