O presidente Obama abriu ao seu colega brasileiro o giro amplo pela Casa Branca, para além do Salão Oval, todo cordialidade no encontro com o primeiro líder latino-americano após a sua posse. A agenda do americano, entretanto, mostrou o quanto ainda estamos nas primícias desse vis-à-vis, e o que de concreto se pode avançar vai mais ao empenho de fiscalização do narcotráfico e da visão ainda de segurança, e policial, com o mundo de abaixo do Rio Grande.
Com efeito, e a acreditar-se de vez num destravo do período Bush, a mudança ocorrerá no seio do G-20, e aí numa liderança brasileira deste grupo de trabalho que entra forte na conjugação de iniciativas com a Casa Branca. Lula foi ao petitório particular de interesse localizado do Brasil na cruzada pelo etanol em que conta inclusive mais aliados na África do que no Continente. E encontrou a escusa do colega, cioso de todos os protocolos, no referir o pleito da nossa agroindústria, diante das cláusulas gerais de reforço do protecionismo de cada país, quiçá de todas as defesas da concorrência nativa, à ofensiva das novas exportações.
Na nova sensibilidade de Obama ao perfil de uma esquerda americana, o Salão Oval se vê diante de pleitos rachados, entre a abertura com Cuba e o repúdio aos regimes autoritários, ou em regressão democrática. É o que simboliza o governo Chávez, no conseguir agora a reeleição perpétua, e fechar a cada mês mais uma estação privada de televisão. Nestes mesmos termos só se ressalta o contraste com Lula, e o exemplo que o país dá ao mundo, de desenvolvimento sustentado e, sobretudo, no contínuo avanço de seu Estado de Direito.
Não se abriram as fechaduras do debate político, não obstante a inusitada investidura de Lula como primeiro porta-voz de Chávez. Ficou Obama no benefício da dúvida, no descartar o tema por não ter ainda a pauta da abordagem para os antagonistas críticos de Bush, ou de se não querer mediações de princípio à articulação deste contencioso. Nem diz como vai dissociá-lo da nova boa-vontade com Raul Castro no facilitário de viagens propostas aos cubanos, finalmente transformadas em moeda de troca com a direita do Congresso, para aprovar o gigantesco projeto de auxílio à crise financeira americana.
O próximo round vai todo ao cenário internacional, entremeado à nova plataforma do G-20. Mas nela é, sobretudo, o Brasil dos Brics o que divisará Obama por sobre a oportunidade perdida de uma entente continental. Fica, no entrementes, o encontro quadrangular com o Chile, o México e a Argentina, em mau momento de debilitação econômica e política do casal Kirchner. Mas a viagem a seguir prometida ao Brasil não pode ser a do raspão por Manaus, mas a do triângulo Brasília-São Paulo-Rio. Foi pelo menos o que fizeram Bush e seu antecessor Reagan, ainda que pensasse estar aterrissando na Bolívia.
Candido Mendes é cientista político
Opinião