Foram só quatro horas mas bem que poderia acontecer vez ou outra. Mas, você sabe que o apagão tem seu lado bom. Pense bem. Não atrapalhou o tão afamado futebol das quartas. Deixei de assistir aquela novela chata que só mostra gente bacana, carrões inalcansáveis para a maioria da população, confusões por dinheiro com seus negócios espúrios, as vilanias do dia a dia e o quase costumeiro adultério, nem sabendo se essa é a palavra ideal, já que esse termo tem tantos significados. Não gastei nenhum centavo de energia, desligando computadores, ventiladores desnecessários, lâmpadas acesas sem ninguém no quarto, e outro sem número de gastos como aquelas lampadinhas de standy by do forno de microondas, da t v, da geladeira, do ar condicionado, do aparelho de telefone sem fio, etc. Tem mais. Muita gente com aquela escuridão foi dormir mais cedo, descansou muito mais, abraçou a esposa, acordou mais animado para o trabalho, os malandros não foram para as ruas, principalmente os menores, porque estava perigoso e não havia o que fazer, e um fato foi o mais notável, passei a conversar com amigos e minha família ao redor de uma mesa e uma vela. Daí a reflexão: como falta conversar com as pessoas. E o escuro me incentivou a mais e mais conversar, bater papo, comer bolo, contar estórias, casos e causos, ouvir minha filha nos arroubos do período “aborrescente” de seus quinze anos, do porque a universidade estava tão feia e abandonada, as reclamações contra o governo e o pedágio, as dúvidas em relação ao que efetivamente estava acontecendo, enfim, o assunto foi longe, parecendo coisa que nunca tinha acontecido. O sono foi chegando até que deu-se a luz, e tudo aquilo acabou. As pessoas foram embora, o bom papo encerrou, bastando tão só que todos se recolhessem para o dia seguinte. Daí restou a indagação: será que o apagão foi tão ruim assim? Prá mim pelo menos acho que não. Hoje as pessoas não conversam trocando um emaranhado de sim, é, tudo bem, as famílias não se reúnem, os pais não conversam com os filhos, não há discussão sobre as dúvidas da vida. Por isso pergunto: quando será o novo apagão? Já comprei a lanterna e estou aguardando.
Antonio Carlos Garcia de Oliveira Promotor de justiça