A complexa construção de uma plataforma petrolífera em águas profundas, com capacidade para produzir 180 mil barris de petróleo e comprimir dois milhões de metros cúbicos de gás por dia, demora três anos; as obras da Rodovia Transoceânica, fabulosa estrada de 2,6 mil quilômetros ao longo da Floresta Amazônica e dos Andes, que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico, devendo ser concluída em 2011, realizam-se em menos de cinco anos; e se gastam apenas três para a edificação de moderna arena esportiva e multiuso, para cerca de 50 mil pessoas e adequada aos mais exigentes padrões da Fifa.
Os três exemplos, pertinentes a grandes projetos de engenharia a serem executados no Brasil, considerando a exploração das reservas de petróleo da camada pré-sal, a solução da deficiência dos transportes e a demanda de estádios para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016, evidenciam que, havendo recursos para investimentos, pode-se resgatar em curto prazo o gargalo nacional da infraestrutura. Contudo, exatamente agora que há financiamento disponível e concretas oportunidades, o País esbarra num grave obstáculo: a falta de profissionais especializados.
No tocante às construções, a maior carência é de engenheiros. Sua formação, entretanto, exige tempo muito maior do que o da realização das mais sofisticadas e desafiadoras obras. Contando apenas o Ensino Fundamental e o Médio, são 12 anos de educação básica e, depois, mais cinco na universidade, totalizando 17. Há que se considerar, ainda, o tempo necessário para que o formando adquira um mínimo de experiência profissional. Por conta desse descompasso na escolaridade, um velho e gravíssimo problema do Brasil, estima-se que já faltem mais de 20 mil engenheiros para trabalhar em todo o País e se observa excessiva valorização salarial. Engenheiros recém-formados que quiserem atuar na área de petróleo e gás, por exemplo, podem conseguir salários iguais ou superiores a sete mil reais.
O Brasil forma cerca de 30 mil engenheiros por ano (para uma população de 190 milhões de pessoas), ante 80 mil na Coreia do Sul (com apenas 48,3 milhões de habitantes). Na Rússia, são 190 mil bacharéis, na Índia, 250 mil e na China, 400 mil. Aqui, temos seis engenheiros para mil pessoas economicamente ativas. Nos Estados Unidos e no Japão, a proporção é de 25 profissionais para mil. De cem alunos que se formam em nossas universidades, apenas oito graduam-se em algum ramo de Engenharia. Na Coreia do Sul, são 20 em cada 100 formandos e na França, a relação é de 15 para 100. Obviamente, tais proporções não dependem somente da aptidão profissional e da escolha dos jovens, mas também da disponibilidade de vagas no Ensino Superior.
Depois do colapso de energia em 2001 e da constante ameaça representada pela deficiência dos transportes, um verdadeiro “apagão” profissional apresenta-se como novo obstáculo ao desenvolvimento brasileiro. Solucioná-lo é crucial para vencermos a precariedade da infraestrutura, fator condicionante para a prosperidade socioeconômica. Portanto, estamos pagando um duro preço pela negligência com que o ensino sempre foi tratado no País!
Juan Quirós é presidente do Grupo Advento e vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)