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Aquecimento global: ceticismo no clima

Na década de 90, era corriqueiro aparecer algum cientista, seja lá o que for esse título genérico, negando o aquecimento global. Ao invés de se valerem de metodologias propositivas que pudessem comprovar tal tese, simplesmente afirmavam a não existência do aquecimento global com base em desqualificar os métodos científicos que diziam justamente o contrário. Era como negar que um automóvel pudesse se deslocar por conta de um problema de metodologia na costura do banco de couro! 

Pior do que ser sem sentido, ensejava até um entendimento de má conduta científica com o objetivo único de aproveitar um momento em que muitas dúvidas existem e se promover de forma inadequada e perigosa para a credibilidade da ciência. Alguns desses cientistas, patrocinados por indústrias de grande emissão, tinham também evidentes interesses em ocultar o aquecimento global, ainda que pudesse existir, não podendo ser classificados como céticos, já que o princípio básico do ceticismo é a imparcialidade, e nesses casos, passaram longe disso.

O tempo passou e cada vez mais os modelos de explicação do aquecimento global apresentados pelo IPCC começaram a ser refinados e com poder de explicar com mais e mais precisão tal efeito, o que poderia ter desanimado os céticos, ou negadores do aquecimento global, e sua já frágil bandeira. Ao contrário, a evidência científica os estimulou a defender a seguinte ideia: sim, o aquecimento global existe, mas não é decorrência da atividade humana. E por conta de um ou outro erro de precisão dos modelos atuais, como a revisão do Met Office (centro de meteorologia britânico) que projetava aumento de temperatura até 2017 de 0.54 graus e após revisão ajustou o número para 0.43, tentam desconstruir trabalhos sérios e definitivos que comprovam o aquecimento global pela atividade humana.

A ilustração acima é a aplicação retroativa dos modelos do IPCC que determinam uma faixa de 
 
O acúmulo de CO2 na atmosfera, desde a revolução industrial, passou de 280 até 296 ppm (partes por milhão), diferença de 116 pp,. nos 500 mil anos anteriores à revolução industrial, o acúmulo foi de 180 para 280 ppm, diferença de 100 ppm. Assim, em 500 mil anos, antes da ação industrial, acumulou-se 100 ppm na atmosfera. A aritmética é simples: um acúmulo de 0.0002 ppm ao ano em média.
 
No período posterior à revolução industrial (iniciado há aproximadamente 140 anos), o acúmulo foi de 116 ppm. Assim, o acúmulo foi de 0.8285 ao ano. Isso significa que o acúmulo de CO2 na atmosfera foi acelerado em 4142 vezes (da última vez que escrevi sobre isso a aceleração era de 3100 vezes), em relação ao acúmulo normal de CO2 pelos processos naturais.
 
Pois bem, não precisamos ser especialistas para perceber que há um tremendo desequilíbrio e, ainda que não tenhamos conhecimento das consequências em detalhes, não é nada prudente não tomar o cuidado de reduzir drasticamente as emissões e menos ainda, perder tempo na agenda da contestação dos fatos.
 
 Não quero com isso dar a sensação de ser antidemocrático, cada um fala e escreve o que quer, mas quero ver se terão coragem de dizer a seus filhos e netos, quando tudo der errado, que fizeram tudo o que podiam! Não fizeram.

* Felipe Bottini é economista