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Opinião

Artigo: DROGAS: UM MAL SOCIAL?!

Percebe-se logo por que o projeto não deu muito certo

 

* Aline Camila Lopes Dourado: Acadêmica do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.

* Michelle Oliveira do Espírito Santo: Formada em Administração, possui MBA em Gestão de Projetos e trabalha como Administradora na UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.

O grande avanço tecnológico e a velocidade das comunicações no mundo contemporâneo têm contribuído para a disseminação de informações referentes aos malefícios causados pelas drogas. Embora existam tantas orientações disponíveis em casa, na escola, no ambiente de trabalho, muitos indivíduos, ainda hoje, trilham pelo caminho da dependência química, fazendo aumentar, cada vez mais, o número de famílias e comunidades que sofrem com esse mal social. 

A dependência química não pode ser vista como um problema individual, que prejudica somente o usuário de drogas, mas sim como um grave problema para a sociedade, pois, ao fazer uso das substâncias entorpecentes, o indivíduo perde o controle de si mesmo, provoca situações de risco à sua vida e à de outros, causando acidentes e, em muitos casos, cometendo crimes hediondos.

O Estado brasileiro, ciente da sua responsabilidade de proteção ao cidadão, tem tentado, ao longo dos anos, minimizar os impactos negativos que as drogas têm trazido para a sociedade. “Combater o tráfico”, que movimenta milhões em dinheiro, reduzir a demanda por meio da ameaça ao usuário com pena de prisão e oferecer tratamento àqueles que já se encontram assolados pelo problema são medidas que podem ser vistas como passos iniciais rumo à solução do problema. Muito ainda precisa, no entanto, ser feito!

Se olharmos a nossa volta, perceberemos a inexistência de programas específicos, sobretudo financiados pelo governo federal, para a prevenção da dependência química. Os esforços têm sido concentrados em remediar o problema depois que ele já ocorreu, com custos bem maiores para o Estado do que se as providências tivessem sido tomadas antes de a dependência acontecer.

Um exemplo disso foi noticiado na grande mídia. O atual prefeito da cidade de São Paulo criou um projeto com o objetivo de ajudar os dependentes químicos que vivem na Cracolândia. Segundo o plano, moradores da Cracolândia receberiam da prefeitura: moradia, três refeições diárias e um emprego, no qual teriam uma jornada de trabalho de 4 horas, com mais 2 horas extras para possíveis treinamentos, porém estas não eram obrigatórias. Seriam pagos R$15,00 por dia, mais o extra dos fins de semana, que somariam no fim do mês R$450,00. Esse dinheiro poderia ser gasto livremente pelo indivíduo. Percebe-se logo por que o projeto não deu muito certo! Muitos benefícios para poucas exigências, já que os usuários nem mesmo eram “forçados” a buscar tratamento!

Em decorrência do fácil acesso às drogas ilícitas, a cada dia aumenta mais o número de dependentes químicos. De acordo com o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (LENAD Família), ligado ao Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em 2013, ao menos 28 milhões de pessoas, no Brasil, têm algum familiar que é dependente químico e 5,7% dos brasileiros são dependentes de drogas. Nessa mesma pesquisa, foi constatado que 73% dos usuários que passaram por tratamento eram poliusuários, ou seja, consumiam mais de uma droga, sendo a grande maioria maconha, combinada com outras substâncias.

Remando contra a maré, observamos várias iniciativas particulares e de organizações sem fins lucrativos, entre elas religiosas, que tentam desenvolver ações pontuais de prevenção e diminuição do impacto do consumo de drogas ilícitas, como a maconha, cocaína ou crack, e das drogas livres, como o álcool e o cigarro.

Para continuarem existindo, essas iniciativas precisam, no entanto, do apoio governamental, a fim de conseguirem definir um modelo de prevenção, que seja adotado em todas as regiões do país de acordo com suas especificidades; um modelo que chegue até as escolas, postos de saúde, centros comunitários e famílias em geral, mudando a realidade das crianças e jovens que estão vulneráveis ao primeiro contato com as drogas. Além disso, essas ações precisam, por um lado, de recursos financeiros destinados à prevenção e não somente ao tratamento daqueles que já foram acometidos pelo vício; por outro, de um sistema de monitoramento e avaliação que acompanhe os resultados alcançados e mensure sua eficácia.