As eleições, felizmente, mudaram muito nas últimas décadas. O rigor da legislação eleitoral e a introdução de novas tecnologias permitiram ao eleitor um pouco mais de liberdade e conforto para escolher e votar no seu candidato.
O advento da urna eletrônica foi uma ideia relevante. Ela tem sido a responsável para que as votações e apurações dos pleitos ocorram com rapidez e segurança.
Mesmo o horário eleitoral, que depois das três primeiras exibições se torna chato e repetitivo, sem falar dos marqueteiros dizendo cada palavra que o candidato deve pronunciar, além das pesquisas “maquiadas” que são divulgadas naquele espaço, se revelou uma fonte importante para ajudar o eleitor a escolher os seus representantes.
A legislação eleitoral que continua necessitando de ajustes para coibir a compra aberta ou disfarçada de votos, em qualquer eleição, mesmo naquela que só votam os filiados do partido para escolher os candidatos majoritários, vem contribuindo para diminuir os ilícitos nas eleições.
Claro que os avanços aqui mencionados só podem ser medidos se tomarmos como parâmetro as eleições de antigamente em que os eleitores tinham mais complicação para escolher seu candidato e votar.
A base das campanhas do passado eram o comício e as visitas aos chamados “currais eleitorais”, cidades e ou distritos em que os coronéis de plantão controlavam com mão-de-ferro cada voto. Daí que surgiu a história do “voto de cabresto”
Os comícios eram realizados à noite, mas em algumas cidades que tinham feiras públicas poderiam ser feitos durante o dia. O candidato se apresentava como ele era. Não havia truques de imagem, marqueteiro ou pesquisa.
Os oradores costumavam discursar gritando porque os equipamentos sonoros eram precários. Nessas oportunidades não faltava um bêbado para criar algum constrangimento ao inflamado pregador.
O palanque era montado em cima de um velho caminhão, colocado em uma rua estreita da cidade, para “embretar” o público e passar a ideia que havia muita gente no evento.
A polícia e as demais autoridades tendiam a proteger os candidatos ligados ao governo de plantão. O político de oposição “comia o pão que o diabo amassou” para realizar atividades em cidades mais distantes.
Não eram poucas as vezes em que a energia da cidade ou do distrito era desligada propositalmente para que a oposição não realizasse o evento. Isso quando não havia ameaça concreta promovida por jagunços a soldo dos situacionistas.
O dia da votação era considerado especial. O eleitor vestia a sua melhor roupa e ia garbosamente cumprir seu compromisso cívico. Antes, porém, tinha que enfrentar uma enorme fila e um exército de cabos eleitorais que se postava estrategicamente em torno dos locais de votação para cabalar votos.
Os filiados do PTB, UDN e PSD, os principais partidos até 1965, iam para as ruas com paixão. Havia mais fidelidade às agremiações. Mesmo no tempo do MDB e da Arena a lealdade continuou acesa. Depois…
Pela manhã, cedo, começavam a chegar os caminhões da zona rural lotados de eleitores. O carro ia direto para a casa do candidato ou de um cabo eleitoral importante.
Nessa casa se montava um pequeno “curral eleitoral” onde o eleitor tinha a sua disposição comida e bebida o dia inteiro. Só saia de lá para votar, com a cola no bolso, sob a supervisão atenta de um homem da confiança do candidato.
A compra de voto não era escancarada como nos dias de hoje. Havia limite. O eleitor considerado fiel costumava receber um corte de pano, um óculos, uma prótese dentária, botina ou outro mimo.
O processo de apuração dos votos era manual. Demoravam-se vários dias para que os sufrágios fossem contados. Havia um locutor oficial para divulgar os resultados parciais.
Entre uma parcial e outra os votos migravam de candidato. Os escrutinadores combinavam entre si e garfavam facilmente os sufrágios que desejavam. Tinha casos em que todos os votos de um determinado município eram direcionados ilicitamente para um candidato.
Hoje, quando as pessoas votam em poucos segundos e o resultado total da eleição é publicado em seguida, sem o assédio dos cabos eleitorais e outros inconvenientes, é difícil acreditar que no passado recente as eleições eram uma verdadeira guerra.
Eronildo Barbosa é doutorando em educação e autor do livro Sindicalismo em Mato Grosso do Sul: 1920-1980