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Opinião

As regras do mercado de trabalho

Decisões tomadas sob a pressão de prazos na escolha de candidatos a vagas de estágio ou mesmo de emprego podem resultar na contratação de alguém distante do perfil desejado, enquanto deixa de fora um grupo de potenciais colaboradores com perfil mais adequado, mas que provavelmente não estão preparados para enfrentar os atuais e rigorosos processos seletivos. E os jovens envolvidos ficam com a frustração de uma corrida perdida e também deixam de aprender lições valiosas no processo.

Nesse quadro, fica a questão: o que o jovem pode fazer para ganhar um lugar ao sol no mercado de trabalho? Os filhos das famílias de maior renda podem até contar com um profissional em fase de crescente valorização, conhecidos pelo termo importado coach (treinador, em inglês), muito procurado mesmo por executivos interessados em reposicionar a carreira. Evidentemente, o serviço de coaching não é barato. Assim, essa e outras soluções similares não são sequer cogitadas por um grande contingente de jovens que mais precisam delas, mas não têm condições de pagar por estarem fora do mercado, e estão fora do mercado porque não possuem a qualificação desejada e não sabem exatamente qual seja.

Foi para preencher essa lacuna – que não é exatamente nova – que o CIEE assumiu a tarefa de preparar jovens para o mercado de trabalho com total gratuidade, numa postura que beneficia especialmente aqueles estudantes que pertencem a famílias de menor renda. Dessa decisão surgiram iniciativas já tradicionais, como o Programa de Orientação e Informação Profissional – que em 36 anos auxiliou mais de um milhão de estudantes a descobrir suas vocações – quanto recentes como os cursos de Educação à Distância (EaD), que no seu aniversário de sete anos quebrou a marca de dois milhões de matrículas. Além disso, o CIEE promove uma série de ações assistenciais, que se refletem também em inclusão social e profissional. O programa de alfabetização e suplência gratuita para adultos, abordado em nosso artigo da semana passada, é bom exemplo. Ele promove o resgate de pessoas que integram as tristes estatísticas do analfabetismo puro e funcional, que corta pela raiz a possibilidade de ascensão social e de exercício pleno da cidadania. Afinal, como podem se inserir plenamente na sociedade, realizar-se como pessoa, conquistar uma ocupação promissora e desfrutar da sua parte na riqueza nacional pessoas com nenhum ou baixíssimo domínio da escrita e a leitura, habilidades imprescindíveis nesta era do conhecimento que o mundo atravessa? É preciso levar em consideração ainda que, em última instância e para todos esses programas, será necessário contar com a força de vontade dos beneficiados: a exclusão social e do mercado de trabalho por vezes enreda as pessoas em um círculo vicioso de acomodamento e inércia. A boa notícia, entretanto, é que ele sempre pode ser quebrado.

*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente Executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)