O bingo perdeu. 250 votos a 150. Mais ou menos.
Os favoráveis alegam que o bingo é uma atividade econômica importante, “que gera empregos”, que pode ser realizada sob fiscalização do governo.
Os contrários dizem que o bingo explora o azar, leva enormes contingentes à pobreza e ao vício, lavagem de dinheiro e aumento do crime no entorno da atividade e da jogatina.
Perdida a batalha no Congresso (já que a guerra ainda vai continuar por muito tempo, a considerar o ânimo dos que perderam e dos que ganharam), os partidários do bingo já oferecem benesses ao Congresso, na forma de um bolo de dinheiro “destinado” à saúde e outros investimentos sociais.
Vi em Las Vegas, às 2 da tarde, senhoras de idade, olheiras fundas, mostrando que estavam ali, diante daquelas máquinas safadas, desde a madrugada. Jogavam com uma espécie de cartão de crédito preso ao pescoço por uma correntinha. Espetáculo dantesco.
Pobres diabos venderam casas, carros e comprometeram a saúde financeira de suas famílias para jogar. O jogo é tão atraente – e por isso mesmo, tão perigoso – que a Sena acumulada leva milhões e milhões à jogatina oficial da Caixa Econômica, semanalmente!
Se fosse um valor mais expressivo do que aqueles 2 reais, as pessoas matariam e morreriam para jogar.
Pois bem, que diferença há entre o bingo e a Mega-Sena, a Loteria Esportiva, a Loto e, mais recentemente, a Timemania? Nenhum. Nessa jogatina oficial, milhões perdem para que um ou dois felizardos fiquem milionários.
Outro argumento que vai por terra é o de que a renda da jogatina vai para projetos sociais. Quem acredita nisso, também acredita em Papai Noel.
Com os bingos, virão as máquinas caça-níqueis, que enganam o jogador. Um ganha, raramente, e centenas de milhares perdem no tlim-tlim macabro daquelas máquinas enfileiradas.
A verdade é que há enormes máfias por trás desses defensores do bingo. Não tem inocente nesse campo. Depois do bingo virá o narcotráfico.
Afinal, estamos no Brasil, onde o Ministério da Indústria e do Comércio libera a comercialização do cigarro, o da Saúde a condena, alegando que prejudica o feto, causa o câncer, o enfizema pulmonar e outros males catastróficos e o Ministério da Fazenda cobra altos tributos sobre ela.
É o mesmo país que condena a bebida como assassina das estradas e, paralelamente, cobra bilhões em impostos e alimenta a indústria da publicidade com atraentes peças que aumentam o consumo alcoólico.
Sou contra o bingo, mas num Congresso corrupto como o nosso, essa guerra tem um fim conhecido.
João Campos é advogado especialista em Direito do Consumidor