Problemas do desenvolvimento existem em qualquer país. Modifica-se o tipo e a intensidade de um para outro. O Brasil, porém, continua sendo objeto de artigos que, como este, buscam ampliar os canais de comunicação a fim de discutir maneiras de melhorar a qualidade de vida de sua população e viabilizar projetos que dão emprego em instituições nacionais e internacionais a profissionais que se dispõem a trabalhar pelo desenvolvimento. Desta vez, continuo falando de um dos Brasis: o marginalizado cultural e materialmente.
O analfabetismo no nosso país é um desses assuntos que nos fazem perguntar se o governo deveria contentar-se com números que se reduzem modestamente ou se é melhor assumir a calamidade com os pés num chão menos escorregadio. A taxa de analfabetismo no Brasil está em aproximadamente 10%, ou seja, 19 milhões de compatriotas são incapazes de escrever ou ler um bilhete simples para usar a definição corrente. E estamos piores que muitos dos nossos vizinhos latino-americanos e caribenhos, cujo índice médio é de 9,5%.
Excetuando-se os 19 milhões, até onde chegam os outros 90% de cidadãos do nosso país em alfabetização? Sabemos que o índice de analfabetismo tem diminuído, mas não basta melhorar as cifras porque logo vem o problema do analfabeto funcional e do despreparo dos educadores para promover um processo de aprendizagem que não só dê oportunidades de inserção no mercado de trabalho como também gere cidadãos aptos a acompanhar criticamente as novas maneiras de escrever e ler impelidas pelos avanços digitais.
Para citar alguns exemplos de avanços que se banalizam sem que toda a nossa sociedade os alcance: a carta escrita cede espaço às mensagens pelo celular; os jornais impressos investem na versão em linha pela qual se folheam virtualmente os matutinos no visual tradicional. Estas mudanças significam que o analfabeto possui o novo desafio de ler e escrever num contexto de digitalização de mensagens e textos. As políticas de alfabetização complicam-se.
Ainda, trata-se de considerar as diferenças regionais brasileiras e de faixa etária a ponto de fazer um diagnóstico mais preciso sobre o qual atuar. Sabendo-se que a maior taxa de analfabetos está na região nordeste e afeta a população acima de 25 anos, o governo enfrenta o impasse de qual grupo priorizar a ação: se deveria ser sobre crianças ou adultos. No entanto, a elaboração de políticas de erradicação do analfabetismo por si só não resolve o problema.
A <educação> implica um caldeirão de idéias e propostas que se remexem em fogo baixo. Variam muito os ingredientes educacionais: uns defendem a educação especializada para o mercado de trabalho, enquanto outros, para a apuração crítica das informações. Muitas destas propostas são ousadas para um país com número tão alto de cidadãos que não sabem exercer a cidadania ou que não conseguem ler na receita os ingredientes que fervem neste caldeirão.
Escarafunchar o problema reflete a nossa preocupação com o tipo de país que queremos: cidadãos que tenham condições de expressar-se também por escrito e inteirar-se por via das letras do que os lápis e as canetas alheios contornam. E mais: almeja-se uma população que se insira sem desvantagens e sem a impressão que redunda na simples capacidade de escrever o nome e ler uma ou outra frase solta cujo produto se anuncia no supermercado.
Um Brasil letrado tem condições de entender, manifestar e ascender.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).