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Capivara: animal nativo com potencial econômico

Um projeto da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) enfocará, entre outros temas, a conservação de recursos genéticos da fauna nativa com potencial de aproveitamento econômico, nas modalidades in situ (no ambiente natural), ex situ (tecidos, sêmen) e on farm (animais em criatórios).
Um dos planos de ação será sobre mamíferos e répteis de interesse econômico, tais como  tracajá, muçuã, vertebrados terrestres do Pantanal, capivara e cateto, disponibilizando e agregando valor ao germoplasma conservado para o uso sustentável destes recursos no agronegócio brasileiro. Um dos temas centrais será a conservação de fauna silvestre.
Em parceria com a Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) a capivara será estudada em sistema semi-intensivo de criação. Entre as ações estão a caracterização produtiva (aspectos de reprodução, crescimento e produção), morfológica e comportamental de capivaras. Será feita a manutenção do rebanho, introdução de outro macho reprodutor e estabelecimento de convênio para destinação da carne. Paralelamente, pretende-se avaliar a produtividade em experimentos clássicos de zootecnia, principalmente com dietas, e realizar um seminário estadual sobre criação e manejo, financiados com recursos externos.
Amostras de tecido dos animais serão conservadas para enriquecer o banco de germoplasma. Todos os dados serão incorporados ao Sistema de Curadoria e Informação do Sibrargen – Sistema Brasileiro de Recursos Genéticos, de onde poderão ser difundidos, propiciando o acesso e permutação aos usuários. O objetivo é garantir germoplasma de qualidade desejável para programas de manejo, melhoramento e domesticação.
A criação de capivaras tem pouco efeito sobre a conservação de suas populações naturais. Este efeito se dá com a oferta de carne no mercado de carnes diferenciadas, pois, sabe-se que boa parte dos consumidores são caçadores e ex-caçadores de capivara com elevado poder aquisitivo.
A capivara não é uma espécie ameaçada de extinção. Pelo contrário, as populações têm aumentado em vários locais graças ao trabalho institucional do Ibama e da consciência ecológica que tem aumentado globalmente. Com esses excedentes o problema de dano à agropecuária tem se intensificado e produtores demandam por manejo em condições naturais. Considerando-se isto e o seu potencial como o maior roedor do planeta, tanto para o manejo sustentável na natureza quanto para os sistemas de criação, no aspecto zootécnico, deve-se rumar para o aperfeiçoamento das técnicas de criação/manejo e o melhoramento genético. Dessa maneira pode-se atingir um nível de desenvolvimento na direção da domesticação, o que permitirá que a carne seja vendida a preço semelhante ao das carnes tradicionais, amplificando o impacto positivo sobre as populações naturais de capivaras. Ganho de peso, número de crias por parto e mansidão foram inicialmente levantados para pesquisa genética no sistema intensivo de criação. Destaca-se também o potencial de sua carne para atender as novas demandas do mercado consumidor por menor teor de gordura e colesterol e maiores níveis de ácidos graxos poliinsaturados.
Por outro lado, o manejo em condições naturais, que agrega maior valor a conservação de populações naturais de capivaras, por gerar interesse econômico pelos animais no seu próprio ambiente e pela conservação do seu habitat natural, não tem ainda viabilidade legal no Brasil. A interação entre as duas modalidades de manejo (que não são excludentes) por meio de um sistema aberto de criação (ranching), basicamente com remoção de filhotes para crescimento em criações, deverá ser uma tendência para os próximos anos, aumentando a rentabilidade dos criadouros, mantendo o rumo da domesticação e ampliando o valor agregado a conservação em condições naturais. Assim, pode-se buscar uma transição que leve também ao manejo racional e sustentável totalmente na natureza.

Max Silva Pinheiro é pesquisador da Embrapa Clima Temperado