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Opinião

Carlos Ramalhete

Verbas de propaganda estatais não bancam apenas a propaganda inútil de feitos irrelevantes

Febeapá *

 

O pessoal da assessoria de comunicação do Senado Federal, fazendo jus aos régios salários que nossos impostos pagam, divulga nas redes sociais algumas das ações encetadas pelo Senado nos dias anteriores. Melhor seria calar-se.

Soubemos assim, outro dia, que a Casa Alta do parlamento debruçou-se sobre as seguintes questões prementes: a “regulamentação” (seja lá isso o que for) das profissões de fotógrafo e detetive particular; a criação de uma burocracia para avisar às pessoas quando acaba a validade da CNH (dica: está escrito nela); a criação por lei de um botãozinho mágico que faz a polícia aparecer do nada ao lado de moçoilas em perigo, servindo ainda de gravador para a produção de provas criminais; a suspensão de prazos processuais para que advogados possam tirar férias sem estresse; cotas para mulheres nas eleições proporcionais; cotas para pretos, pardos, indígenas e deficientes nas escolas públicas…

Achar que a ordem social seja gerada pela legislação faz com que o Estado flutue num mundo de fantasia

É o que Sérgio Porto chamava de Febeapá, “Festival de Besteiras que Assola o País”. Do tempo dele pra cá, todavia, tal sintoma de decadência piorou muito. Se antes judiavam apenas da paciência de quem se prestasse a acompanhar a Voz do Brasil – aquela maldição lançada pelo governo contra quem gosta de ouvir rádio –, agora a propaganda dos grandes feitos desses seres sublimes e quase angelicais que atendem pela alcunha de “políticos brasileiros” espalha-se por todos os meios, inclusive redes sociais. Tudo, claro, bancado por vastas quantias arrancadas do bolso de quem trabalha.

As verbas de propaganda estatais não bancam apenas a propaganda inútil de feitos irrelevantes (como a criação ex nihilo do botão de materializar guardinhas), mas ainda sustentam ampla rede de supostos formadores de opinião, que se dedicam à propaganda política em prol de governantes e governantas.

É um ciclo vicioso que se perpetua e cresce cada vez mais: a irrelevância da legislação que é promulgada faz com que as leis – quaisquer leis – percam importância, o que por sua vez faz com que besteiras cada vez mais absurdas ganhem foros de legislação. Ao mesmo tempo, os políticos tentam convencer alguém de que não são vagabundos apregoando aos sete ventos que trabalharam muito… propondo miríades de “leis”. Como a regulamentação da profissão de detetive particular – será que aqueles cursinhos por correspondência que mandavam uma carteirinha de detetive para o bobo que os pagasse têm um lobby? Investiguemos irregularmente.

Divulgar tudo isso, claro, justifica aumentar a propaganda estatal.

O problema é de base: achar que a ordem social seja gerada pela legislação faz com que o Estado flutue num mundo de fantasia, ligado à realidade apenas pelos tentáculos pelos quais suga as verbas que o mantêm.

 

  • É professor universitário, escritor e articulista.