Como não são bobos, os potenciais candidatos do PSDB à Presidência buscam um discurso para capturar parte do eleitorado que hoje sustenta Luiz Inácio Lula da Silva. Os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, agem com maior moderação do que tucanos e democratas do Congresso porque sabem que precisam dialogar com a base política de Lula para ter sucesso na eleição de outubro de 2010.
Aécio faz um correto discurso de que o país deve se preocupar com o "pós-Lula". Critica, mas alisa. Reconhece avanços. Concentra-se mais nas bandeiras de aprimorar programas sociais e gerenciar melhor a máquina.
Serra tem saído da toca na economia. Começou a bater mais duro na política econômica, sobretudo no manejo dos juros básicos (Selic) pelo Banco Central. Crítica acertada. O BC errou no auge da crise. Poderia ter baixado os juros antes e mais rapidamente. Só o fez depois de a porteira ter sido arrombada, derrubada e destroçada.
Mas o PSDB tem uma dificuldade danada para fazer um discurso atraente que leve o eleitorado que hoje dá alta popularidade a Lula a pensar em optar por um nome da oposição e não do governo.
Um erro parece ser o ataque à mudança de regra na poupança. O PSDB terceirizou a tarefa para o PPS. O deputado federal Raul Jungmann foi à TV dizer que o governo pensava em mexer na poupança como fez o governo Collor. Não houve bloqueio, mas muita gente saiu correndo da poupança com medo. Muitas pessoas tiraram dinheiro e saíram perdendo.
Veio uma mudança que atingiu 1% dos poupadores e que não tem nada de bloqueio. Ou seja, a crítica do PPS, endossada por muitos tucanos e democratas, não se sustentou nos fatos.
Outro exemplo: o PSDB e o DEM passaram anos criticando o Bolsa Família. Falavam que era assistencialista e voltado para a fidelização do eleitorado pobre (compra de votos, trocando em miúdos). O programa é um tremendo colchão social, ainda mais numa hora de crise. Recentemente, o PSDB fez até seminário para dizer que não era contra o Bolsa Família. Convenceu? Há controvérsias.
Falta muito tempo para a eleição. Será um erro a oposição ignorar a massificação dos programas sociais sob a batuta de Lula. Convém lembrar que o PT só pavimentou o caminho até o poder central depois de abandonar a pregação econômica do velho PT.
Em 2002, Lula lançou a Carta ao Povo Brasileiro para beijar a cruz do respeito aos contratos e aos fundamentos econômicos caros ao mercado. Talvez seja a hora de a oposição começar a pensar na sua Carta Social ao Povo Brasileiro.
Do contrário, não será fácil derrotar o atual governo nas urnas no ano que vem.
Kennedy Alencar é jornalista comentarista de jornal de TV
Opinião