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Opinião

?Chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor?!

Entre as várias peculiaridades dessa “gente bronzeada” estão a de protestar apenas pela derrota do time de futebol e a de nunca se indignar com nenhum fato relevante. 

O que se vê agora com o Movimento Passe Livre pode ser oportunidade para se questionar todas essas sociologias. Mas o que esses jovens querem? Por que estão nesta agitação toda?! Querem transporte público gratuito. Ora! Dizem as autoridades, é um absurdo! 


Mas autoridades do judiciário, além de detentoras dos maiores salários do funcionalismo, contam com motorista e veículo grátis e ainda merecem auxílio moradia. Se não bastasse para causar indignação, noticia-se que juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) viajam frequentemente ao exterior acompanhados de suas esposas com todas as passagens pagas pelo poder público.


O valor do vale refeição e das diárias pago aos doutores é infinitamente superior ao da peonada. Políticos em decadência são agraciados com nomeações para vitalícios cargos nos famigerados Tribunais de Conta. Parlamentares têm direito a salário, a auxílio moradia, a passagens aéreas e até a selos do correio. Se um vereador viajar a Campo Grande, receberá diárias de, aproximadamente, novecentos reais; enquanto que se um professor fizer o mesmo percurso receberá diárias de cento e cinquenta reais. Em compensação, o trabalhador precisa ralar trinta e cinco anos, ter pelo menos sessenta anos de idade para se aposentar. Mas a filha órfã de militar tem direito à pensão vitalícia.


No setor privado, useiro e vezeiro em afirmar que o setor público é um poço sem fundo para consumir o que o setor privado produz, as maiores empresas merecem “incentivos” que as livram de vários impostos. Empresas frotistas (ou motoristas proprietários) de taxi compram carros novos com vinte e cinco por cento de desconto, mas oferecem uma das quilometragens mais caras. Até há pouco tempo, produtores rurais tinham descontos de quase dezoito por cento na compra das desejadas camionetes.


Há outros exemplos de privilégios injustificáveis, resultados apenas do poder de pressão de seus usuários ou apenas pela proximidade com o poder. Nosso país é administrado por quase nenhuma preocupação com o princípio do “poder público”. Aqui, mero bom atendimento no guichê de qualquer repartição pública é privilégio, mas a concessão de juro subsidiado ao capital internacional é considerada fator de progresso.
Muitos de nossos políticos usam do poder apenas para permanecer no poder. Hoje, os estudiosos identificam este fenômeno pelo eufemismo “governabilidade”, mas a população tem chamado de falta de vergonha e de coerência. 
Diante disso tudo, é bem provável que a explosão de indignação em torno do preço da passagem de ônibus nos grandes centros urbanos do país seja, ao fim de tudo, uma enorme insatisfação diante do quadro desajustado de distribuição de direitos e privilégios que persiste há anos. Seria sonhar demais com mais “passes livres”? Livres de corrupção mas prisioneiros de educação, de saúde, de dignidade. Por que não?!

*José Batista de Sales é Professor da UFMS