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Circos e festas infantis

Fazia tempo que eu não ia ao circo. Convidei vários amigos, mas só um topou. Os demais disseram que já tinham passado desta fase. Encaramos a experiência. Era domingo à tarde. Ficar em casa vendo televisão? Não tínhamos nada a perder.
Chegando lá, compramos o ingresso, passamos pela portaria e logo já se notava a atmosfera contagiante da abóbada circense. Música alegre, palhaços, vendedores ambulantes de doces compunham a cena. Um lugar mágico em que se reúne a família e as crianças veem o encanto da vida. Sob a lona colorida, presenciam-se instantes de regozijos extraordinários ou que faltam à vida lá fora.
Quando começou o espetáculo e era hora de os palhaços entreterem a platéia, não deu outra. Eu ria mais intensamente que algumas crianças ao redor que assistiam pasmadas. Umas sorriam, outras franziam a testa; havia os que escondiam a cara e nem queriam saber. Eu dava gargalhadas.
Que mal tem em que uma criança tenha algo de senil ou um adulto algo de infantil? Jovens carrancudos são tão comuns quanto velhos graciosos. A vida está para ser contemplada, experimentada e compartilhada.
É cíclica a maneira como vivemos, ao contrário do encerramento que se dá ao dizer que passou a fase. Não creio que se dá um desfecho completo a experiências vividas. Estamos sempre recontando, rememorando e celebrando, embora de novas maneiras. Revivem-se vários períodos.
É certo. Tem momentos que não voltam mais, costumes e manias que não têm hoje sua razão de ser, namoros que não têm retorno, datas e modas antiquadas.
Mas o que dizer de um pai ou uma mãe que leva os filhos a festas infantis, zoológicos e outros eventos do círculo de convivência das crianças? O adulto, de certa maneira, revive fases, volta a ser criança e pode divertir-se até mais que outrora. Perpetuam-se redes de sociabilidade.
Assim o hábito de associar a idade a alguma fase específica não tem cabimento de acordo com o que divulgo aqui. Os conselhos de anciãos são proveitosos para a infância, assim como a ingenuidade e a pureza da criança enaltecem a alma dos mais experimentados.
Uma vez me detive a observar como uma criança se distraía e sorria enquanto seu acompanhante adulto perdia a paciência numa fila de banco. Desejei que venham tempos melhores, em que não haverá desconfiança, cobiça, inveja, ódio, traição, entre tantos outros males de que o ser humano é capaz.
Quando eu era mais criança, tinha a impressão de magnitude, ou de que tudo era grande, especial, misterioso e distante, até que o mundo foi mostrando a pequenez das mesquinharias humanas, embora eu tenha a convicção de que a natureza repercutirá sempre a impressão que tinha na infância.
Às vezes, é bom reviver a memória da infância, deslocar-nos da nossa condição adulta e embaralhar a clareza das idades. A volta ao circo e às festas infantis tem sua recompensa.

Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais.