As estatísticas de assaltos a condomínios, problema nacional que vinha decrescendo desde 2004, fecham este ano com números ascendentes, ao menos em São Paulo. Para prevenir contra essa possibilidade, somos obrigados a manter a guarda fechada e detectar onde estamos errando. Significa perguntar o que está falhando no dia a dia dos condomínios e se algo poderia mudar para melhor. Falamos de um universo de quarenta mil condomínios só no Estado de São Paulo, que movimenta R$ 8 bilhões anualmente e responde por 250 mil empregos diretos. Se falarmos de Brasil, esse número se multiplica.
Entre os fatos novos, há o reforço da parceria entre o Secovi-SP e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Desta parceria, surgiu novo plano de trabalho destinado a combater os arrastões nos condomínios. Dela, emanaram o Programa de Prevenção e Repressão a Roubos a Condomínios e a decisão de centralizar todas as ocorrências em uma delegacia especializada, a 4a da Divisão de Crimes contra o Patrimônio. Ela contará agora com a participação e a expertise dos Conselhos Comunitários de Segurança, os Consegs.
Já se foi o tempo em que a violência contra os condomínios era endêmica das grandes cidades brasileiras. Os últimos arrastões demonstraram que as quadrilhas são mais versáteis e atuam em áreas interestaduais. É tudo muito bem estudado e planejado.
Quando iniciam o ataque, sabem o que querem e têm nomes de condôminos preferenciais como alvo, com hábitos bem conhecidos e patrimônio identificado. É quase sempre assim. Após a porta arrombada, são divulgadas na mídia as dicas de prevenção, via de regra as mesmas, uma espécie de bê-a-bá que já está exigindo mais criatividade.
Tem ficado evidente na maior parte das ocorrências que os bandidos "não estão sozinhos". Há em muitos casos indício ou evidência de que os assaltantes receberam a ajuda de quem se encontrava intramuros. É o que explicam as cercas elétricas desligadas, circuitos internos de televisão sem as fitas, guaritas abertas quando deveriam estar fechadas, porteiros desatentos que atendem a quem se aproxima com diferentes motivos.
As empresas de segurança privadas e administradoras se esmeram em cuidados na contratação de funcionários. O sistema, porém, não é infalível. O RH das empresas precisa elaborar modelos mais sofisticados de contratação, a partir de um novo perfil do funcionário do condomínio. Ele precisa ter vocação para o risco? De um nível de atenção e concentração especiais? Como se medem tais atributos em termos de RH? Enfim, precisamos saber se os síndicos estão de olhos abertos e os condôminos atentos.
Não são muitos aqueles que trocaram suas casas pelo condomínio, para viver "em estado de atenção". É justamente o contrário: quem troca sua casa por um apartamento, ou por outra casa de um condomínio, pensa em relaxar. Acha que merece – e merece mesmo. Mas aqui está o nó. Esse cidadão tão merecedor de uma vida tranquila – já que paga por ela –, terá de se reciclar diante do atual quadro de violência.
As reuniões de condomínio serão também obrigadas a discutir a questão da segurança. O objetivo é manter a postura cautelosa e alerta de todos e ser, ao mesmo tempo, check-list e brainstorming. Não pode, entretanto, ser reunião para poucos. O síndico deve usar de criatividade na convocação: pode passar e-mail e afixar aviso em locais visíveis, em tom patriota: “Precisamos de você!” poderia ser uma das chamadas. Essa postura se esvai se não for estimulada e se perde se não a reativamos periodicamente.
A reunião deverá considerar a participação de funcionários em rodízio. Eles também podem relaxar além da conta se não forem motivados. Quem resiste ao futebol nas tardes de domingo? São muitas as tentações e distrações. O ruído das ruas distrai. O próprio silêncio distrai. Portanto, vigilância renovada dia e noite! Os algozes do patrimônio alheio são diuturnos. A caça tem de imitar o caçador e ser tão inteligente quanto ele. Com esse novo nível de atenção nos condomínios, a vida continua.
Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP e diretor da Fiabci/Brasile do Grupo Hubert
Opinião