O leitor um pouco mais atento – e acostumado com nossas conversas dominicais sobre assuntos relacionados ao mercado de trabalho – pode estranhar o título deste artigo. O fato é que ocasionalmente são divulgados alguns dados tão contundentes que fazem por merecer maior reflexão e atenção de jovens, pais, gestores e educadores. Levantamento do Ministério da Saúde, com base nos registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade, aponta que o álcool é a droga que mais matou brasileiros entre 2006 e 2010, chegando à média de oito mil óbitos ao ano.
Ou seja, mesmo que envolto no manto da legalidade e da descontração das happy hours, o álcool não é diferente das outras substâncias entorpecentes. O cenário fica ainda mais sombrio quando se cruza essa informação com outros estudos, como o I Levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários, feito por especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Nele, 86,2% dos estudantes do nível superior confessam já ter experimentado bebidas alcoólicas e 43% admitem que elas foram a porta de entrada para o consumo de outras drogas.
Quem é vizinho de algum centro universitário sabe que a predisposição dos jovens ao álcool transforma o entorno de grande parte das instituições de ensino em verdadeiras baladas ao ar livre, nas quais o que menos importa é a preparação para estudos acadêmicos mais aprofundados ou a capacitação para o mercado de trabalho – funções primordiais do ensino superior. As vivências extracurriculares propiciadas pelos campi são importantes nessa fase da vida estudantil, mas, quando elas comprometem o futuro, deve-se acender um sinal de alerta.
Não é de hoje que o CIEE acompanha de perto os jovens também nesse campo, trazendo as universidades para ações preventivas. Há mais de uma década, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) delegou ao CIEE uma campanha voltada às escolas superiores, que se fundamenta em três pilares: a publicação de folders informativos elaborados por especialistas e distribuídos a estudantes; a promoção de um concurso anual de monografia e a realização de seminários gratuitos em campi, sempre a convite das instituições de ensino. A primeira ação de 2012 já está agendada para março, com a realização do seminário na Faculdade Santa Marcelina, campus de Itaquera, com coordenação e palestra de Ana Regina Noto, professora da Disciplina de Medicina e Sociologia do Abuso de Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que também assina uma coluna sobre o assunto na revista Agitação, publicação institucional do CIEE distribuída gratuitamente a seus públicos e postada para acesso no site www.ciee.org.br.
* Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.
Opinião