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Consciências sujas

João Guimarães Rosa, gênio da raça, escrevia sobre os mistérios e os escombros da alma humana, decifrava-os. Sabia os atalhos, os anseios escondidos, as tormentas interiores de cada um. Um dia, sentenciou: “pessoas limpas, pensam limpo”.
Hoje estamos diante de dois simbólicos pensamentos. De um lado, o povo brasileiro pedindo, com milhões de assinaturas, pela aprovação do projeto dos homens limpos em pensamentos, nome e currículo, comandando a nossa política. É o Projeto de Lei Ficha Limpa, que tem como objetivo central “remover das eleições candidatos que cometeram crimes sérios, como desvio de verba pública, corrupção, assassinato e tráfico de drogas”.
Os sujos, como eles sempre fazem, já jogaram a votação do Projeto para maio. Por certo, para terem tempo de converter votos e garantir mais uma derrota para a democracia e para os desejos e anseios do povo brasileiro. Afinal, dois milhões de assinaturas valem nada, mas dois milhões de votos…
Em uma democracia tão frágil como a nossa, em que um voto pode ser comprado com um simples pão com manteiga e que vários votos podem ser fidelizados com um prato de comida diário, a sociedade tem que se organizar e estabelecer normas para aqueles que querem gerir a sua vida, para aqueles que terão o seu aval para tomar decisões, interferindo assim na vida e destino de milhões de brasileiros.
Por outro lado, temos o político que freqüenta mais os cadernos de polícia que de política em nossos jornais, Paulo Maluf, tentando retaliar e enquadrar, com um Projeto de Lei, o Ministério Público. É claro que este projeto de Paulo Maluf só tramita célere no Congresso por que conta com o silêncio cúmplice do Planalto e do PT. Pois, se fosse em outra época, a banca petista já teria colocado a esvoaçante Ideli Salvatti na rua e rufado os tambores da consciência cívica e moral, aqueles que eles desde que chegaram ao poder, não bradaram mais. 
O mundo político nacional se tornou isso, uma matilha de cachorros iguais, cada um querendo apenas morder o maior quinhão que não lhe cabe. Por isso eles querem enquadrar o Ministério Público, vedar os olhos da Justiça. Não para barrar os crimes de agora, mas os crimes futuros, que eles vão perpetrar para perpetuar no poder, para alugar partidos, comprar comissões e, até mesmo, subornar promotores, procuradores, ministros e juízes.
Eles sabem que o crime no Brasil compensa e muito, e sempre tem uma boa recompensa… Por isso, é bom estar sempre com os cuecões fartos, impregnados pela sujeira do poder.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor