Aprendi que precisamos ser diretos quando almejamos reter a atenção do leitor. Dessa forma, temos que chocá-lo ou encantá-lo no início do artigo. Optei por chocá-lo, afirmando que o consumismo contribui diretamente para o ecocídio. Assim, se você é um consumista, um perdulário, você é um ecocida em potencial. A palavra “ecocida” pode não ecoar bem, mas reflita se você é ou não um destruidor de ecossistemas, ou seja, um exterminador do futuro.
Já é “lugar-comum” a afirmação de que a humanidade vem destruindo, depredando, poluindo e devastando em larga escala os recursos naturais não renováveis que são essenciais à vida. Essa é, todavia, uma declaração generalista e em parte equivocada, já que coloca todos os habitantes no mesmo balaio. Os norte-americanos, por exemplo, são extremamente consumistas e geram muito lixo. Já grande parte dos africanos mal consegue tirar a subsistência da natureza e gera pouco lixo.
Infelizmente, o capitalismo tem configurado o mundo de forma desigual, mas, mesmo assim, todos pagam pelos pecados materiais de poucos. Por outro lado, o meio ambiente não suportaria um nível de consumo elevado como o dos norte-americanos. O inegável é que o sistema treina as pessoas para serem consumistas e perdulárias. O objetivo do capitalismo é criar nas pessoas uma carência material eterna e um senso de competição do ter.
Nos dias de hoje, não basta apenas ter; é preciso ostentar os bens materiais como se fossem um troféu. Comprar inúmeros pares de sapato. Encher o closet de roupas. Abastecer a geladeira e o armário da cozinha com produtos industrializados. A garagem deve ser grande e abrigar vários carros. Teoricamente, quem tem é bem-sucedido, é aquele que venceu na vida, ou seja, é um merecedor do que tem.
Para muitos, o ato da compra se tornou a busca da felicidade e, assim, se consumo, logo existo. O consumo demasiado pode existir para suprir um problema psíquico ou uma promessa de felicidade e de plenitude de sentimentos.
Há períodos, como em véspera de datas comemorativas – dias das crianças, dia dos namorados, natal, dia das mães e dos pais, entre outros –, em que as pessoas parecem ter saído do seu estado normal e ficado loucas. É uma cena que antecede ao fim do mundo, uma vez que invadem lojas, shopping centers e ruas de comércio popular para comprar. A imagem mais corriqueira é de pessoas transportando sacolas repletas de bugigangas e badulaques.
O fato é que somos reféns desse sistema draconiano que aprofunda a crise ambiental. Sem uma revisão crítica e racional do consumismo, que vem ganhando ares de algo comum e prazeroso, seguimos em alta velocidade em direção ao ecocídio.
Chegou a hora de os formadores de opinião se posicionarem em defesa da redução das desigualdades, do senso coletivo e, especialmente, da vida, ou seja, ser avessos ao consumismo, que vem ganhando força sobretudo nos países emergentes, como é o caso do Brasil. O consumismo não é a tabua de salvação da economia e da sociedade.
Marçal Rogério Rizzo: Economista, professor da UFMS – campus de Três Lagoas