O Brasil em 2017 será um país bem diferente, e muito dessa mudança se deverá à engenharia civil industrial. As obras que prepararão o país para receber a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e permitirão a exploração de petróleo na camada pré-sal prometem mudar a paisagem de norte a sul, proporcionando melhorias para mais da metade dos estados da federação e milhões de pessoas.
Também as indústrias se beneficiarão com os investimentos envolvidos. A partir do segundo semestre de 2010, um grande crescimento econômico está previsto para todo o setor de engenharia industrial, com aquecimento percebido principalmente na construção civil. Para os dois eventos esportivos estima-se que serão investidos cerca de R$ 130 bilhões em infraestrutura urbana, incluindo a construção ou adequação de estádios. Para a exploração do pré-sal estão previstas cifras ainda mais impressionantes: a Petrobras projeta aportes de 174 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, e empresas privadas que atuam no setor deverão investir cerca de 34 bilhões de dólares no país até 2013, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).
Com o país transformado em um grande canteiro de obras cheio de potencial, o setor enfrentará percalços como a falta e o consequente aumento de custo de material e de mão de obra, principalmente a especializada. A proporção alcançada por tais problemas dependerá da forma como os empreendimentos serão contratados – se haverá simultaneidade na realização de obras e prazos de execução.
Tecnologia de ponta e mão de obra altamente especializada serão exigidas para a exploração das reservas petrolíferas que se escondem abaixo da profunda camada de sal que estende-se por 800 quilômetros de subsolo marítimo entre os Estados do Espírito Santo, São Paulo e Santa Catarina. Aliado a este desafio do setor está também o das obras preparatórias para Copa e Olimpíada, que sem dúvida serão arrojadas.
Porém, talvez o maior desafio do setor esteja nas obras preparatórias para Copa e Olimpíada.
Os organizadores dos dois maiores eventos esportivos do mundo – Federação Internacional de Futebol (Fifa) e Comitê Olímpico Internacional (COI) – exigem uma infraestrutura impecável, que deverá ser executada com muito planejamento para evitar construções desnecessárias, os chamados elefantes brancos. E isso deverá ser feito respeitando prazos estreitos, que já estão fixados e são imutáveis, mas cujo cumprimento está à mercê de decisões políticas em todos níveis da administração pública: definição dos projetos de arquitetura, construtivos e de detalhamento; aprovações burocráticas junto a órgãos federais, estaduais e municipais; preparação das concorrências; licitação; adjudicação etc. Atrasos poderiam forçar a construção simultânea de diversas obras de grande porte, o que não só causaria a falta de mão de obra, mas atingiria os limites da capacidade de fabricação de insumos, gerando falta de materiais e aumentando os custos, podendo até mesmo inviabilizar a entrega do empreendimento na data necessária.
Tamanho crescimento exigirá muito preparo das indústrias. Está aí a chance de deixar para trás o histórico brasileiro de má organização na hora de construir, o que resulta em obras executadas às pressas, sem planejamento e controle de orçamento, como aconteceu no período que antecedeu os Jogos Panamericanos de 2007 no Rio de Janeiro. A melhor receita para evitar esse quadro é: para cada tipo de empreendimento deve-se buscar a combinação ótima entre um bom projeto e seu prazo de execução. O prazo de elaboração do projeto e da execução devem estar compatíveis e otimizados quando se iniciar a alocação de mão de obra, materiais e equipamentos. Somente assim será possível crescer junto com o Brasil.
Edenir Artur Veiga é diretor de construção civil da ABEMI – Associação Brasileira de Engenharia Industrial