É notório que a imensa maioria das cidades brasileiras não surgiu e, muito menos se expandiu, de forma planejada. O fato é que inúmeras novas cidades estão percorrendo o mesmo caminho, isto é, tomando contato com problemas relacionados à insuficiência de infraestrutura urbana, resultado de um crescimento acelerado da demanda, implicando diretamente na perda de qualidade de vida dos munícipes.
Opinião
Correção dos rumos de Três Lagoas
Caso típico, Três Lagoas – município de aproximadamente 100 mil habitantes, localizado na região leste do Estado de Mato Grosso do Sul – sem dúvida nenhuma, vive um forte ritmo de crescimento, fruto do processo de expansão das fronteiras industriais que ocorre em nosso país. Esse fenômeno, acabou por elevar a demanda por mão-de-obra, seja por parte das indústrias, seja por parte de setores, como construção civil e serviços, atraindo um contingente enorme de pessoas a esta região.
Não cabe questionar se este grau de concentração industrial é recomendável ou não. Fato consumado. No entanto, ficam algumas questões: até que ponto a cidade preparou-se pra receber os novos moradores? O que foi planejado e o que foi de fato executado, tanto pelos agentes públicos, quanto pelos setores privados (como comércio e serviços) para atender a esta nova realidade?
O brutal aumento populacional, mesmo que, muitas vezes, não permanente – caso da mão-de-obra alocada para construção das plantas industriais – elevou demasiadamente os preços dos aluguéis, dos serviços e de muitos produtos. É interessante notar que a qualidade de vida dos moradores também vem sendo sacrificada, pois a infraestrutura da cidade não estava preparada para receber tal contingente de trabalhadores.
Portanto, nada mais justo que o poder público tenha um olhar especial visando à correção de rumos. Existem muitos pontos a serem revistos pela administração municipal. Sabemos que é preciso abandonar a ideia do improvisado, do descuidado, do feio e, principalmente, do sem qualidade. A cidade precisa repensar sua expansão urbana e populacional. Por que permitir o surgimento de novos bairros e loteamentos, frutos somente da especulação imobiliária? O que fazer para estimular o uso/construção e ocupação dos milhares de terrenos baldios que existem em Três Lagoas? Por que não implantar o Estatuto das Cidades e o IPTU progressivo? Cadê a coleta seletiva de lixo? Cadê a ampliação de áreas verdes e o incentivo ao plantio de árvores? Por que os serviços médicos e o transporte coletivo deixam tanto a desejar?
Há quem acredite que tudo está ótimo – principalmente para os poucos que se beneficiaram (e muito!) com esse crescimento desordenado; porém, basta andar um pouco pela cidade para ver que há muito para ser feito. Chegou a hora de a cidade começar a enxergar seus problemas mais graves, produtos dessa expansão; mais do que isso, não perder a oportunidade de distribuir os ganhos deste fenômeno de forma mais equitativa, por toda a população, melhorando a qualidade de vida de uma forma geral.
*Douglas Soares do Nascimento é acadêmico de Administração, e Marcelo Rogério Rizzo e Nelson Yokoyama são professores do curso de Administração da UFMS-Três Lagoas