Não é possível crescer sem investir. Por isso, o Brasil, que pretende alcançar a quinta posição entre as maiores economias do mundo nas próximas duas décadas, tem urgência em sanar deficiências históricas nos setores de logística, energia, telecomunicações e habitação.
A falta de uma infraestrutura adequada é um dos fatores que mais atrapalham o crescimento do País. Exemplo disso é o tanto de perdas que enfrentamos no agronegócio: o Brasil figura hoje como um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, mas grande parte de sua produção é desperdiçada nos processos de colheita, transporte, estocagem, beneficiamento e comercialização. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) coloca o Brasil como um dos dez países que mais desperdiçam alimentos: quase 35% da nossa produção agrícola, o que equivale a 10 milhões de toneladas de comida, vão literalmente para o lixo a cada ano.
Outro levantamento, feito pela Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de São Paulo, mostrou que a quantidade de alimentos não aproveitados ao longo da cadeia produtiva representa em torno de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Traduzido em reais, o rombo é de R$ 17,25 bilhões no faturamento do setor agropecuário nacional. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por sua vez, estimou que as perdas de grãos no País, ao longo de toda a cadeia produtiva, correspondem a mais ou menos 10% da produção de arroz, feijão, milho, soja e trigo.
Segundo o IBGE, quase 70% das cargas brasileiras são deslocadas pelo modal rodoviário, que não é o mais apropriado para distâncias superiores a 300 km. Os grãos que vemos caídos nas beiras das estradas que cortam o País não deixam dúvidas quanto à veracidade dessa afirmação. Daí a relevância dos investimentos na melhoria do sistema ferroviário (reconhecido como o mais adequado para se percorrer distâncias entre 300 km e 500 km) e nos meios de transporte fluviais, que são rápidos, econômicos e sobressaem como solução eficiente para cobrir distâncias acima de 500 km.
Vale lembrar que, apesar de a tecnologia agroindustrial brasileira ser das mais desenvolvidas do mundo no tocante à produção, são poucas as fazendas produtoras que dispõem de armazéns. A simples existência desse tipo de recurso reduziria o desperdício: em vez de haver, como hoje, o transporte para o local de estocagem, e deste para o local de beneficiamento, haveria uma etapa a menos no processo. Logo, as perdas a ela associadas seriam dirimidas.
Outro setor em franca expansão, graças aos investimentos em moradia popular e à proximidade de eventos como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas de 2016, que impõem a necessidade de realizar construções e reformas, é o da construção civil.
No Brasil, a indústria de construção responde por aproximadamente 7% do Produto Interno Bruto (PIB) e absorve 6,5% da população economicamente ativa (PEA), exercendo um forte papel indutor na economia. No entanto, esse segmento, que é reconhecidamente um grande gerador de empregos e riquezas, também tem seu rendimento afetado pelo desperdício de materiais. Estudo elaborado pelo Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP, com amostragens de canteiros de obras de 12 estados brasileiros, averiguou que há desperdício de mais da metade do material empregado nas construções. O uso abusivo também ocorre em relação à água e à energia. Claro que essa quantidade de perdas causa aumento de custos e impacto negativo no desempenho do setor.
Ainda de acordo com o estudo da Poli/USP, a formação deficitária dos profissionais que atuam no setor é uma das raízes do problema. Grande parte dos trabalhadores desconhece as técnicas mais modernas de construção e empregam métodos tradicionais e ultrapassados. Erros de cálculo e a preferência pelo "olhômetro" em detrimento do cálculo acurado são fatores que interferem na qualidade final da produção.
É por isso que, mais do que alocar recursos para grandes obras, o Brasil deve planejar e dar prioridade à busca pela eficiência. Somente assim conseguiremos superar os déficits que ainda nos impedem de ocupar o lugar que merecemos na galeria dos países mais avançados do mundo.
Eduardo Pocetti é CEO da BDO, uma das cinco maiores empresas do mundo em auditoria