Chegamos a um momento de crise da criatividade, que se deu após a turbulência de idéias dos séculos anteriores, em especial, das últimas décadas. O que não quer dizer, porém, que é o fim do ser criativo ou que já não é possível mais criar, uma vez que o processo continua ainda que paulatina e surpreendentemente. Parto da premissa de que a criatividade não é a mesma coisa que acúmulo de conhecimentos: aquela tem a ver com a fluidez da imaginação e o uso da inteligência, enquanto este se refere simplesmente ao depósito de informação.
As eleições passadas formaram coleções de discursos políticos clichês ou que repetem como papagaio os de décadas ou até séculos atrás. O mais grave é que as propostas, quando existem, quase sempre se amparam em princípios implantados em outro contexto e importados por nosso país sem que se considere necessariamente a realidade em que vivemos. A menos, é claro, que se proponha construir uma ponte ou uma creche em tal bairro, e aqui alguns supõem que haja criatividade.
É cada vez mais profusa a cópia de trabalhos intelectuais por preguiça de um suposto criador. Os filmes que passam nos cinemas exigem um cuidado especial para que não se confunda ficção com realidade, embora o mesmo autor esteja em vários deles ou pressuponhamos que se trate de criação. Os de terror dificilmente saem dessa de casa amaldiçoada ou de mitificação do desconhecido; os de aventura trazem atos heróicos, quando não sensacionalistas, de final feliz; e o de histórias de amor às vezes recheiam com algum problema atual para parecerem criativos.
Comentei de idéias que se oferecem como propostas para a regulação da nossa situação política e social, de um gênero de indústria cultural que são os filmes, e acrescento que na televisão ocorre um processo semelhante de crise da criatividade, mas que se faz passar por novidade. Um programa tende a imitar o outro em função da audiência. Desde as pegadinhas até os “reality shows”, que passaram pelos Estados Unidos e logo apareceram em “Casa dos artistas” e “Big Brother Brasil”, com todas as suas edições anuais. O mesmo com o “American Idol” estadunidense, que inspirou o “Ídolos” brasileiro.
Ao “Se vira nos trinta” do Domingão do Faustão, contudo, dou-lhe crédito como incentivador das manifestações populares de criatividade. Até mais do que atribuo às novidades da Polishop e de outras empresas, que de tão estapafúrdias acabam sendo opções criativas para os consumidores que querem produtos de limpeza mais eficientes, televisores que cabem na palma da mão ou acessórios de ginástica e fortalecimento muscular, entre os portáteis e que ocupam menos espaço. Poderíamos achar que a criatividade não está tanto em crise porque nos tornamos mais exigentes.
Um olhar atento ao que o mundo já criou sugere, no entanto, que estamos num momento de crise da criatividade. Por mais que cada ser humano seja único e original (que gêmeos são completamente iguais?), o que parece faltar é a mobilização dos elementos que fazem da nossa realidade distinta e, portanto, autêntica. Deve haver algum jeito de continuar criando, ainda que não seja artista ou cientista. Nem todo criador o é dentro de uma profissão. O lado direito do cérebro é associado à criatividade. Quem sabe uma massagem neste hemisfério o reacenda.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais – UNESP/Franca.