Uma das surpresas que eu guardava para os alunos nos meus tempos de professor de faculdade de jornalismo era uma revelação aparentemente banal para quem é do meio: a economia não é uma ciência exata, como os leigos tendem a pensar. Por isso, a interpretação dos números, em especial os das estatísticas, exige crivos cuidadosos e visão mais abrangente do analista, ou seja, não é suficiente uma leitura linear dos dados para se entender o comportamento da economia em toda sua complexidade.
Exemplifico a questão com uma recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que detectou que, entre 2003 e 2011, a queda do desemprego entre pessoas com 11 anos ou mais de estudo foi mais lenta do que para quem tem menos preparo. Numa primeira leitura, a conclusão pode significar que o profissional mais bem qualificado demora mais para encontrar emprego, contrariando a tese de que economia aquecida demanda mão de obra de ponta. Mas, pensando melhor e avançando na análise, é possível encontrar algumas explicações para esse resultado, que vão desde a tendência de profissionais qualificados optarem por trabalhar como pessoa jurídica ou como consultores, abrindo mão da CLT – lembre-se que o IBGE leva em conta apenas os registros em carteira de trabalho – até o fato de que setores com menor grau de exigência em capacitação, como serviços e construção civil, registraram fortes taxas de aquecimento.
Outro aspecto a considerar é que nos últimos anos as empresas saíram ávidas à caça de profissionais qualificados e detectaram que, tão importante quanto atrair os melhores talentos é adotar políticas de recursos humanos para retê-los, numa tentativa de reduzir o turn over de contratações típico de mercado de trabalho com oferta de vagas em alta. Essa, em nossa opinião, pode ser uma das explicações para a aparente contradição entre estatística e realidade do mercado. Outra razão está na mudança dos critérios de avaliação de candidatos. Hoje, somente conquistar diplomas não é mais sinônimo de qualificação. As empresas continuam a valorizar a escolaridade, sim, mas ela deve estar aliada às chamadas competências atitudinais, como habilidade de trabalhar em equipe, de bem administrar o tempo, de atuar com flexibilidade, criatividade e proatividade, e por aí vai. O melhor caminho para adquirir esses requisitos é, indubitavelmente, conjugar um bom estudo com a vivência em ambiente real de trabalho e com investimento no desenvolvimento pessoal. Nesse sentido, saem na frente aqueles jovens que potencializam o aproveitamento do estágio, adquirindo paralelamente diferenciais competitivos. O que pode ser feito sem gastos financeiros, como é o caso das oficinas e cursos presenciais e à distância, oferecidos gratuitamente pelo CIEE e com conteúdos sempre sintonizados às exigências do mercado de trabalho.
* Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.
Opinião