Participei de várias reuniões do Fórum Econômico Mundial em Davos, e outras tantas por eles organizadas na América Latina, com foco específico na região, que agora acontecem anualmente. Não resta dúvida que, apesar do prognóstico de alguns e desejos de outros, Davos não perdeu seu charme e importância relativa.
Não só as plenárias que reúnem autoridades e governantes do mundo todo, como sessões específicas com temas variados, são extremamente provocativas e atendem os interesses de uma gama variada de participantes que não exclusivamente empresários e autoridades. Acompanhantes, por exemplo, podem desfrutar de debates muito ricos em sessões paralelas, sobre ciência, literatura, filosofia, etc. Porém, mais importante que participar das reuniões e debates, é sentir o ambiente em conversas particulares e reuniões fechadas, às quais nem todos os participantes têm acesso. Informações conseguem ser vazadas e declarações acabam dando um pouco do clima das preocupações predominantes.
Aliás, diga-se de passagem, a cobertura da imprensa nacional e internacional, feita durante o evento, consegue captar a essência dos debates e às vezes me surpreendia com o fato de que, mesmo estando presente, mantinha-me melhor informado pelo noticiário dos jornais, televisão e rádio.
Esse ano, a mensagem que vem dos Alpes Suíços é que será o encontro mais importante da história do Fórum. Será mesmo? Tenho minhas fundamentadas dúvidas.
O que deverá sair desse encontro de três dias é um diagnóstico bem mais atualizado sobre a crise internacional, e quais os caminhos alternativos os países estão buscando para superá-la.
Enquanto a confiança não estiver de volta, no entanto, é difícil imaginar que políticas monetárias, fiscais e de incentivos a investimentos em infra-estrutura, possam ter resultados palpáveis a curto prazo.
Particularmente devemos estar muito atentos à posição que a China assumirá no contexto da crise. Não só como estará sua economia, como também que atitude terão os chineses no quadro conjuntural mundial. Será de grande relevância saber, por exemplo, sua solidariedade em relação aos demais países em crise.
Não devemos esperar que, ao final da reunião, tenham os participantes encontrado o mapa da mina e todas as soluções salvadoras para acabar com a crise. Certamente, idéias já discutidas serão enfatizadas, e quem sabe possam vir a público conceitos e idéias que não foram suficientemente explorados.
Vale ressaltar a modesta participação brasileira. Nosso presidente, que tem sido um ativo participante, preferiu ir a Belém com colegas da região para focar os desdobramentos da crise na área social.
Do lado empresarial, também serão poucos os nomes de peso presentes. Na realidade, nunca tivemos uma presença empresarial em Davos compatível com a de outros países emergentes, particularmente os Brics. Será o fator custo?
Vamos aguardar com interesse e ver o que virá do frio gélido de Davos.
Roberto Teixeira da Costa é ex-presidente do Conselho de Empresários da América Latina