Demolir um prédio cinquentenário de concreto armado, que em 1970 passou a abrigar o Poder Judiciário em Três Lagoas é de fazer chorar quem conhece a luta de todos que se empenharam na sua construção e na sua funcionalidade. Demolir o prédio do Fórum da Comarca de Três Lagoas com quase dois mil metros de construção é debochar do dinheiro do povo.
Alegar que precisa dar lugar a um estacionamento para acomodar quem trabalha ou vai ao Fórum à procura de Justiça é caçoar da inteligência alheia. Este edifício não apresenta nenhum comprometimento na sua estrutura. As instalações elétricas e de água e esgoto, certamente, reclamam pela ação do tempo substituição. Mas nunca essa providência tornaria inviável econômica e financeiramente a utilização deste prédio, que deveria ter destinação para abrigar inúmeras repartições públicas, sejam elas do Estado ou do Município, cujos aluguéis aliviariam o custo da administração pública. Fui um dos que lutou contra as primeiras investidas da sua demolição.
Não nasci para ser omisso e nem me acomodar, diante de circunstância que compromete o bom desempenho administrativo de quem quer que seja, ou mesmo tendo informação distorcida, sem conhecer “in loco” as condições deste prédio, não tomou cuidado para se convencer da decisão para autorizar sua demolição com finalidade para dar lugar a um estacionamento para veículos. Essa marca representa o descaso com o patrimônio público dos defensores desta malsinada decisão.
O dinheiro público não é água que jorra, mas advém do sacrifício dos cidadãos que as duras penas recolhem os pesados impostos que recaem sobre as atividades que exercem. Não vou me alongar, mas esta demolição em tempos de colapso das finanças públicas e de arrocho a que todos estamos submetidos pelas restrições que o coronavírus nos impõe, sem dúvida é de uma inconsequência sem precedentes. Apaga se à luz da história com a demolição do edifício do Fórum de Três Lagoas, a atuação daqueles que nele pontificaram na distribuição da Justiça, na defesa do Direito, da liberdade, dos oprimidos, pobres e descamisados e das garantias individuais. Rasgam uma página da história da nossa cidade. Lamentavelmente, poucas vozes se levantaram para preservar o edifício do Fórum da Comarca de Três Lagoas – um patrimônio de todos nós, principalmente, dos três-lagoenses.
*Rosário Congro Neto é advogado, empresário e diretor geral do Grupo RCN de Comunicação.