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Desafios estruturais da governança digital na publicidade atual

Leia editorial sobre o impacto das medidas anunciadas por Zuckerberg na publicidade

Danielle Leduc é coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da AEMS. Publicitária (UCPel) e especialista em Marketing, Estratégia e Inovação (Centro Universitário Internacional Uninter).
Danielle Leduc é coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da AEMS. Publicitária (UCPel) e especialista em Marketing, Estratégia e Inovação (Centro Universitário Internacional Uninter). | Foto: Divulgação

O recente depoimento de Mark Zuckerberg ao Senado norte-americano trouxe à tona questões fundamentais sobre a governança de dados e o papel das grandes corporações digitais na regulação de conteúdo e proteção do usuário.

Entre as declarações mais polêmicas, está a decisão de descontinuar filtros automáticos de moderação e encerrar o programa de checagem de fatos por terceiros nos Estados Unidos, privilegiando uma abordagem mais reativa baseada em denúncias. Embora a Meta alegue que tais medidas reduzem censura indevida, especialistas temem que possam ampliar significativamente a disseminação de desinformação, discursos de ódio e propaganda enganosa.

Essas alterações destacam a complexidade de harmonizar liberdade de expressão com regulações locais. No Brasil, legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Marco Civil da Internet impõem diretrizes claras sobre a responsabilidade das plataformas em mitigar conteúdos prejudiciais e proteger os direitos dos usuários. O descumprimento dessas normas pode acarretar não apenas sanções legais, mas também prejuízos reputacionais que comprometem a sustentabilidade das marcas envolvidas.

No âmbito da publicidade, a governança de dados continua a ser uma questão central. Campanhas que se valem de informações coletadas de forma ética e transparente têm maior chance de engajar consumidores e fortalecer relações de confiança. Estudos do Interactive Advertising Bureau (IAB Brasil) confirmam que a personalização bem aplicada é um diferencial competitivo, desde que respeite os limites impostos pela legislação e os princípios éticos.

O impacto das medidas anunciadas por Zuckerberg também coloca em xeque o compromisso das plataformas digitais com a experiência do usuário. Ao reduzir a moderação automática, a Meta corre o risco de transformar suas redes em espaços vulneráveis à proliferação de conteúdo nocivo. Essa escolha não apenas mina a confiabilidade da plataforma, mas também pressiona reguladores em mercados globais a reforçarem as exigências de conformidade legal. No Brasil, o Ministério Público Federal já requisitou esclarecimentos da Meta sobre como tais mudanças se alinham às obrigações legais locais.

No contexto acadêmico, a formação de publicitários precisa acompanhar essas transformações. Instituições de ensino superior devem integrar aos currículos o estudo crítico de legislações, ética digital e práticas de mercado responsáveis. Mais do que dominar técnicas criativas, os futuros profissionais devem ser preparados para atuar como agentes de mudança, promovendo soluções inovadoras que respeitem os direitos fundamentais e fortaleçam o mercado publicitário.

Ao final, o depoimento de Zuckerberg simboliza não apenas um ajuste político nas estratégias da Meta, mas também um ponto de inflexão na relação entre tecnologia e sociedade. O mercado publicitário, em particular, deve aproveitar essa oportunidade para liderar o caminho rumo a uma abordagem mais ética e transparente. O desafio é não apenas cumprir normas, mas também reconquistar a confiança do público em um cenário cada vez mais dinâmico e exigente.

Danielle Leduc
é coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da AEMS. Publicitária (UCPel) e especialista em Marketing, Estratégia e Inovação (Centro Universitário Internacional Uninter).