O fechamento da balança comercial com déficit de R$ 6,2 bilhões nos primeiros quatro meses de 2013 é um forte indicativo de que o ano não será positivo para equipe econômica. O saldo negativo, um recorde histórico para o período, demonstra uma ingerência equivocada nas relações comerciais, embora o governo justifique que o problema deve-se à baixa demanda por aquisição de nossos produtos pelos Estados Unidos e os países da Zona do Euro.
Opinião
Desastre na balança comercial põe em xeque a política governamental
Não se pode negar, contudo, que perdemos competitividade em nossa indústria, e o principal entrave é a questão logística, que encarece cada vez mais o custo de produção, em um momento que é fundamental a desburocratização e empenho para escoar nossas mercadorias, principalmente os grãos, cuja safra é histórica. Foi vergonhoso o cancelamento de pedidos da China em virtude de não haver possibilidade de embarcar os produtos já encomendados.
Estamos diante de uma situação que poderá até mesmo prejudicar o controle inflacionário. Tanto se fala em desoneração e corte dos juros, mas a presidenta Dilma Rousseff e sua equipe econômica, desgastadas em decorrência da falta de sensibilidade com números e com a política de que “está tudo bem”, estão transformando o Brasil em motivo de diversão dos estrangeiros. Ninguém mais acredita no que dizem os membros da equipe econômica. Tal desconfiança pode levar a outras consequências mais sérias.
A justificativa de uma forte queda na balança comercial não é mistério para ninguém. A Petrobrás não consegue mais suprir a necessidade por petróleo e os seus derivativos. A forte importação para suprir o mercado doméstico é um dos principais problemas para o déficit comercial, com o detalhe da manobra governamental com a “Contabilidade Criativa” de Dilma, pela qual foi atrasado em dezembro de 2012 o reconhecimento das importações do petróleo, para permitir o fechamento das contas do governo, além de antecipação de dividendos de Estatais. Isso foi o estopim de um problema que em 2013 não foi possível esconder debaixo do tapete.
O governo faz previsões em uma bola de cristal que não funciona. Não adianta tapar o sol com a peneira. A situação é séria. Infelizmente, poderemos ter problemas mais sérios este ano. Não adianta estimular a exportação de grãos para tentar sanar o problema da falta de combustível. A venda externa em excesso pode provocar desabastecimento no mercado interno e a inflação poderá disparar, com aumento de juros e mais pressão sobre as empresas, que perderão mais competitividade. Será aberto mais espaço para a concorrência estrangeira, gerando redução no PIB e a possibilidade de desemprego.
Está na hora de a população acordar e exigir corte acentuado nos gastos públicos, com enxugamento do número de ministérios e empresas estatais, que não geram resultado positivo para a sociedade. O que o Brasil tinha de vantagem infelizmente esta indo para a vala. O superávit primário é cada vez menor devido ao aumento do gasto público e da política de redução tributária, sem a compensação devida. Quanto ao déficit comercial, é provocado em grande parte pela infraestrutura e logística precárias. Nenhum empresário investirá seus recursos sabendo que não terá retorno.
Ao longo de maio, teremos um novo cenário, com o estimulo governamental ao etanol nacional. Isso, porém, poderá ser um novo tiro no pé se não for bem gerido, provocando maior consumo de gasolina, em virtude do aumento da mistura do álcool nesse combustível. Isso resultaria numa alta dos preços para os consumidores.
*Reginaldo Gonçalves é professor de Ciências Contábeis