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DILEMAS PARA AS PEQUENAS E MICROEMPRESAS

Uma simples consulta aos dados da atividade econômica do Brasil evidencia que todos os anos muitas empresas abrem as portas e muitas fecham, especialmente as pequenas e microempresas (PME). É comum a pessoa abrir sua empresa só levando em conta o fator do sucesso alheio, desconhecendo os atores e as dificuldades que compõem os bastidores de um negócio. Destaca-se, por exemplo, que o Brasil está sendo invadido por produtos importados com custo mais baixo em relação aos produtos nacionais, e que as grandes empresas vêm adentrando em mercados locais, investindo em marketing e disputando palmo a palmo o bolso dos consumidores.
Por sua vez, a maioria dos consumidores procura o produto levando em consideração o seu preço, esquecendo-se da qualidade e do suporte. Vários produtos importados têm custo menor em relação aos produtos nacionais, mas isso não quer dizer que, por serem importados, sua qualidade seja superior. Na determinação do custo, são levados em consideração alguns fatores, e não é surpresa saber que, em outros países, a carga tributária é bem inferior à nossa e a mão de obra é mais barata. Já as grandes empresas conseguem adequar-se a essa invasão em virtude do que recebem, o que não ocorre com as PME.
A bem da verdade, registre-se também que os pequenos empreendedores muitas vezes se perdem em meio a informações que deveriam ser básicas para eles. Mudar esse quadro onde impera a “lei do mais forte” não é nada fácil. Só haverá mudanças se os novos empresários mudarem a forma de pensar e agir e, claro, se o governo apoiar as MPE, viabilizando seu nascimento, desenvolvimento e existência.
Embora não haja solução fácil e rápida há exemplos interessantes no mundo a serem seguidos. Nos Estados Unidos, existe uma lei federal, criada há mais de 70 anos, intitulada “Buy American”, ou seja, “Compre Americano”, por meio da qual o governo dá preferência aos fornecedores de bens e serviços locais. No Brasil, isso ainda não acontece. Registramos a maior invasão de produtos importados dentre os países do BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China.
As perspectivas tornaram-se mais interessante descobrir que 99% das empresas abertas no país são PME, entretanto possuem participação inferior a 20% do PIB, diferente de outros países, em que essa participação pode chegar a 60%. A razão do sucesso das pequenas empresas nos países europeus está nas associações e união das empresas. Na Itália, a legislação prevê a figura do consórcio de microempresas, que estimula a união. Com essa legislação, seus resultados correspondem a 42% das exportações, enquanto no Brasil, esse número não ultrapassa a marca de 1,2%.
O discurso pode variar, mas o núcleo do problema é inconfundível. Aqui, por não ocorrer nenhuma intervenção, os pequenos veem seus concorrentes como inimigos e não enxergam possibilidades de se fortalecerem juntos. Para mudar esse quadro, o governo brasileiro pretende criar a Secretaria de PME, que busca solucionar esse problema por meio da economia solidária e da união das PME. A questão que surge é: Seria essa uma solução plausível para as PME, ou será mais uma Secretaria com status de Ministério para empregar mais apadrinhados políticos? Esse órgão teria o objetivo e o alcance para eliminar os gargalos que prejudicam a eficiência das PME?
Longe de expressar uma luz no fim do túnel para as PME, o incremento desse órgão deveria priorizar pesquisas e tecnologias voltadas à melhoria dessas empresas. A política de credito e financiamento também poderia ser modificada, pois as PME não conseguem linhas de longo prazo junto ao sistema bancário, o que as impede de crescer, pois, se quiserem fazê-lo, terão que pagar o crescimento com seu próprio capital. Outro dado que impressiona é o fato de mais de 70% das PME não conseguirem sobreviver cinco anos após sua fundação.  Uma causa disso é a falta de conhecimento dos empresários a respeito de gestão e técnicas básicas, problema que poderia ser minimizado ou sanado por meio de cursos de capacitação ou treinamento. Em outros países, tais técnicas são apresentadas no ensino médio, mas a educação no Brasil ainda é deficiente e altamente inferior à de muitos outros países avançados.
Portanto, as intervenções do governo nas PME podem gerar muitos benefícios, um dos quais – e mais importantes – é a geração de emprego, pois, quanto maior for o desenvolvimento das PME, maior será a abertura de postos de trabalho. A mudança cultural também é necessária. O pequeno empresário tem que criar alianças para se fortalecer enquanto grupo e não se ver em meio a uma guerra repleta de PME querendo arruiná-lo. A busca de conhecimento e técnicas básicas para gestão das PME também faz parte dessa cesta de necessidades. O governo deveria criar uma política de crédito e de financiamento diferenciados, voltada para essa tipologia de empresa, impedindo, assim, a descontinuidade do crescimento pela falta de recursos para autofinanciamento. Para transformar esse cenário e chegar a uma solução plausível para tais problemas, deve haver políticas incentivando a educação de qualidade. Desse modo, as mudanças na economia devem ser associadas a políticas educacionais; afinal de contas, sem educação de qualidade não haverá empreendedores de qualidade!

Bruno Castro Rodrigues da Silva é Acadêmico do Curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS. Email: [email protected]

Marçal Rogério Rizzo é Economista e Professor da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS. Email: [email protected]