Sempre fui fascinado por mulheres fortes, convictas e que, no trato do poder, consigam conta-gotear algumas delicadezas. Talvez esse seja o grande desafio de uma mulher ao chefiar uma nação. Confesso que os terninhos bem talhados e o novo corte de cabelo não foram capazes de me seduzir durante a campanha presidencial. Porém, nesses primeiros dias pós-eleita presidente, Dilma Rousseff ganhou meu coração. Como numa valsa tangueada, ela está conseguindo transpor a pérola cravada em uma fina gargantilha de ouro e vem dominando, com elegância, o salão do palácio. “Há que endurecer, sem perder a ternura jamais”, eternizou Che Guevara. Nem sou seu fã, mas sua ponderação me parece de total pertinência temática quando vejo as ações e o comportamento de nossa futura presidente. Estou apaixonado. Será que ela aceitaria um pedido meu de casamento?
Nos últimos dias, a presidente Dilma tem adotado a postura de quem pretende governar como uma estadista. E isso não é um galanteio político de um conquistador barato, nem um falso puxassaquismo com quem venceu. Um observador mais cuidadoso é capaz de perceber o comportamento da presidenta, que tão confortável parece estar com as dimensões da responsabilidade assumida, já até citou o ex-premiê britânico Churchill durante uma entrevista a jornalistas que a cercavam na entrada da principal reunião do G-20, na Coreia do Sul. Foi absolutamente perfeita ao parafraseá-lo: “há certas medidas que a gente não confessa nem para nós mesmos”. A terceira mulher mais poderosa do planeta, segundo a revista Forbes, é a grande atração do encontro de cúpula das 20 maiores economias do mundo.
É importante ressaltar que uma coisa é ser político, no sentido comum. Outra coisa é ter uma visão e um comportamento de estadista. Político qualquer um pode ser e nos sobram Tiriricas e Romários para corroborar a tese. No entanto, raros são os estadistas, que, nas sábias palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (que se portou como um), “é aquele que projeta o futuro do seu país, consegue enxergá-lo no contexto mundial e é capaz de conduzi-lo nessa direção”. O ex-primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Sir Winston Churchill, foi um verdadeiro estadista no leme do Estado num momento crucial da história contemporânea: a Segunda Guerra Mundial. E Dilma já compreendeu esse timing. Acertou em cheio ao citá-lo, quase metaforicamente, à margem de um encontro que tem a dura missão de discutir a guerra cambial que está assolando as economias em desenvolvimento. São pequenos detalhes que já evidenciam suas posições pós-posse.
Não estão satisfeitos até aqui com as razões do meu pedido de casamento? Então vamos colocar mais alguns detalhes. Será que alguém reparou como a presidente eleita tem se comportado em público? Quando está só, assume o comando, domina os microfones e fala de forma retilínea sobre seus movimentos políticos no tabuleiro de xadrez que se formou e como pretende governar. Mas quando está ao lado do ainda presidente Lula, discretamente se afasta, tenta não estar no foco dos fotógrafos e até caminha com ele, mas guarda-lhe alguns passos de dianteira. É natural que os cidadãos e a imprensa estejam mais interessados por ela do que por ele, afinal ela é o futuro imediato. No entanto, não serão discursos passionais e saudosistas ou elogios dela uma prova de gratidão e respeito. A maior e mais impressionante deferência que Dilma Rousseff presta a seu padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva é justamente não furtar-lhe o brilho em seus últimos momentos na Presidência da República. Só uma mulher, em completo domínio de seus meios e plenamente consciente de seu próprio poder, é capaz de tão exata delicadeza. Lição que aprendi com a atriz Íttala Nandi, uma amiga-mestre apaixonante.
Ser estadista não é condição sine qua non para se exercer um papel útil, decente e de relevância na vida pública. Mas é excitante observar a presidente eleita já navegando com maestria pelos mares do poder, que ela tem convicção meridiana de conquistar. Sinto-me um voyeur de Dilma. E talvez só Freud conseguirá explicar isso. Ou nem ele. Mas é fato que ela está me conquistando, dia após dia. E o inverso, a recíproca, será que virá? Faço aqui valer as palavras do mesmo Churchill, quando disse modestamente: “minha conquista mais brilhante foi a habilidade de persuadir minha mulher a se casar comigo”.
Helder Caldeira é escritor, articulista e colunista político