O leitor já teve ter lido esse mesmo título em outros editoriais publicados nesta mesma página, pois esta não é a primeira vez que o mau uso do dinheiro público é apontado pelo Jornal do Povo através. Em tempos de dificuldades financeiras como esta que vive o país e os municípios em consequência da queda da arrecadação, fato que coloca em dificuldade a administração municipal, em especial, o caso de Três Lagoas, jogar dinheiro pelo ralo é inaceitável.
Nesta sexta-feira, o Jornal do Povo deu início a uma série de reportagens sobre o uso do dinheiro público pela Câmara Municipal de Três Lagoas, que tem, na previsão orçamentária deste ano, nada menos que R$ 15 milhões. O recurso está previsto em lei. O questionamento, que se faz é como e onde é gasto.
Causa espanto, quando se lê na matéria publicada na edição de ontem, sexta-feira, no Jornal do Povo de Três Lagoas, que a Câmara Municipal tenha gasto R$ 100 mil em diárias para custear viagens de vereadores, assessores parlamentares e seus servidores. Os trabalhos legislativos só recomeçaram em fevereiro. Gastaram, por dia, R$ 3,5 mil em viagens a cada 24h. Pior, é saber que a maioria da população brasileira não recebe esse valor após um mês de trabalho suado.
Nesta semana, os vereadores aprovaram, por unanimidade, a redução do valor das diárias, de R$ 900 para R$ 700, para viagens dentro do Estado. Deveriam ter reduzido mais. A Resolução da Mesa Diretora, para estes casos ainda prevê que, se o percurso for superior a mil quilômetros haverá um acréscimo de 40%, que proporciona um salto no valor da mesma diária para R$ 980. Para facilitar mais ainda as mordomias, a Câmara de Vereadores deliberou suspender o limite de três diárias ao mês para cada parlamentar como estava sendo adotado depois de repetidas denúncias do JP. Numa manobra sem recato, trocaram seis por meia dúzia e pouco se importaram com a opinião pública. Nem querem saber que milhares de pessoas na cidade recebem um salário mínimo de R$ 788. Devemos lembrar, que a média salarial do três-lagoense gira em torno de R$ 1,5 mil, dois dias de viagens de um vereador.
Mas, as regalias concedidas por eles próprios em favor da confraria formada pelos digníssimos vereadores de Três lagoas, não param por aí. Além das diárias, cada vereador tem direito a 300 litros de combustíveis por mês. Ao todo, são 46 veículos cadastrados para abastecimento de combustível por conta do contribuinte. A Câmara de Vereadores é constituída por 17 vereadores. Um veículo popular tem um tanque para combustível para 50 litros, em média. Enquanto o restante da população faz contas e mais contas para conseguir abastecer seus veículos, os parlamentares saem com o tanque cheio até seis vezes em um único mês. Com isso, são mais R$ 17 mil do contribuinte que viram pó.
Vale lembrar que, no ano passado, vereadores de cidades menores da Região do Bolsão com duodécimos menores, deram um banho no Legislativo de Três Lagoas. Algumas cidades da região devolveram o que sobrou de duodécimo para a Prefeitura reverter em obras para a população. Em Aparecida do Taboado, foram economizados R$ 400 mil, que ajudaram o município a colocar em dia o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dos servidores que não era recolhido.
Mas, em Três Lagoas, os vereadores assistem de camarote a cidade passar por dificuldades. A demissão de servidores, cortes e mais cortes no orçamento, além da suspensão de obras de pavimentação e até mesmo suspensão da terceirização da merenda escolar das crianças, que prejudicou a permanência de crianças nas creches e escolas, não sensibilizou os vereadores para economizarem o dinheiro público. Aliás, alguns aproveitaram a grita geral e fizeram discursos demagógicos para tirar proveito político. Mas dar exemplo que é bom não querem. Todos sabem que não é atribuição constitucional do Legislativo executar obras. É sabido que as suas atribuições de um vereador está a de fiscalizar o Poder Executivo, mas nem isso querem fazer com correção. Preferem jogar a culpa em terceiros pela situação que a cidade vive. Não dão nenhuma parcela de contribuição para minorar a situação de dificuldade financeira que o município atravessa. E muito menos, oferecem uma crítica construtiva que proporcione uma mudança.