Ao contrário do que se poderia esperar, este texto não redunda naquele tema corriqueiro dos anos 1980 e 90: a globalização. Este processo já foi discutido exaustivamente no meio acadêmico e usado como pretexto para explicar os fenômenos de maior dimensão na atualidade. Ainda que reconheçamos que a globalização não começou há poucas décadas como alguns acreditam senão na busca secular do estreitamento de vínculos com outras partes de um mundo até então desconhecido, o termo continua em uso indiscriminado.
O ponto do que eu parto se refere à dimensão global que os acontecimentos e os processos locais têm assumido. Hoje é improdutivo pensar em alguns temas sem os remeter a um nível mais amplo de onde surgem ou em que repercutem. A concentração populacional em cidades depois do êxodo rural na primeira metade do século passado foi um fenômeno de proporção comparada aos usos que damos aos meios de comunicação no início do XXI. Portais para diversas partes do mundo encontram-se em nossos lares.
Além disso, os temas prioritários da agenda internacional definem-se pela concertação de diversos países e também pelas decisões de seus atores internos. A mudança climática e o desmatamento são dois destes temas que reclamam a participação mais ativa de cidadãos e empresas, que respectivamente podem refrear o consumismo e adotar práticas de proteção ao meio ambiente. Em termos mais práticos, o costume da reciclagem e o cuidado na eliminação de lixo industrial são alguns dos esforços.
A questão energética também pode ser aduzida nesta argumentação porque a produção de etanol em alguns estados brasileiros tem seguido uma demanda crescente de mercado interno e externo ao mesmo tempo que as plantações de cana-de-açúcar tomam conta de grandes extensões da nossa paisagem. O Brasil tem-se convertido, contudo, num celeiro de países desenvolvidos, enquanto se recomenda que o Caribe siga o mesmo caminho nefasto e o primeiro ônibus movido a hidrogênio no Brasil é testado em São Paulo.
Contradições à parte, é relevante ressaltar aqui que ações, movimentos e processos locais têm sido cada vez mais influenciados por exigências do globo e vice-versa. Crises financeiras que ninguém sabe exatamente de onde brotam, vírus de gripe que se expandem entre várias bandeiras nacionais e temores a testes nucleares realizados por países até então marginalizados nos mostram que o local não prescinde do global nem esta instância se completa sem aquela. Em tempo real ou na duração de um voo, fazemos parte de um mundo.
Sobre o que eu dizia no primeiro parágrafo e malgrado o título, temia que este texto explorasse novamente aquele tema de que estamos cansados de ouvir. Na verdade, seus aspectos deveriam ser melhor elucidados para evitar más interpretações e mistificações. A globalização, porém, remete-nos a pensar nas localidades. É sobre estas que fiz questão de desdobrar. Temos um papel aqui neste bairro, nesta cidade, neste país; por fim e nem sempre diretamente, no mundo. Até aí chegamos. A menos que nos mandem para o espaço.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em relações internacionais