Até pouco tempo atrás achava que fosse somente impressão minha. Logo comecei a desconfiar que o meu pressentimento infelizmente se convertia em realidade. A durabilidade dos objetos, produtos e serviços está cada vez menor. O que se compra hoje tende a inutilizar-se em tempo precoce.
Produtos eletrodomésticos, eletrônicos, ferramentas, peças, brinquedos e utensílios têm sido fabricados para pifar em curto prazo e fazer-nos comprar outros. Fiquei sabendo que cartuchos de impressora têm sido produzidos de tamanho menor para movimentar o setor comercial de recarga. Artimanhas para aquecer o mercado?
Liga-se o cronômetro. Por que a lavadora de casa está funcionando firme e forte há mais de vinte anos e a geladeira nova apagou em pouco mais de um ano de uso? E toca chamar o tal do técnico da “assistência técnica autorizada”. Cobra caro para trocar uma peça sem a qual a geladeira não resfria. Parece que já previa a situação.
Acessórios de informática perdem sua utilidade em poucas semanas ou meses e logo temos que atualizá-los por incompatibilidade com os novos programas. Uma câmera pode ficar obsoleta se eu migro do sistema operacional Windows XP para o Vista devido a que o fabricante já não produz mais drivers para aquele componente.
Guarda-chuva, então, nem se fale. É só dar um vento forte que ele estoura, abre no sentido contrário e eu passo vergonha na rua segurando os destroços enquanto me molho. Não tenho tido sorte com guarda-chuvas. A menos que se compre aqueles muito mais caros que se parecem com guarda-sol. Para que tanto?
Nestes meses de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que afeta a venda de produtos que acuso menor durabilidade, o governo faz esforços inimagináveis para aquecer o mercado deste ramo industrial, que está ameaçado pela crise econômica. E deu resultado: estão vendendo e têm até faltado nas lojas.
O problema a que me refiro, porém, é outro. Diante do sistema capitalista, a necessidade é a de vender mais e despertar no consumidor a vontade de comprar outro produto o quanto antes para perpetuar a lógica de mercado. É por isso que a tostadeira de casa durou poucos meses mais que o tempo de garantia que a fabricante concedeu.
Os objetos, produtos e serviços à venda são cada vez mais descartáveis. São feitos para durar menos e exigir a compra de uma nova integridade em vez de enviá-los ao conserto. Não vale mais a pena solicitar reparos, que custam quase o preço do novo. Até lentes de contato se compram para usar uma única vez ou determinados meses.
Neste jogo, entra a concorrência entre os fabricantes, a deterioração da qualidade dos componentes e a consequente redução dos preços. Nem todo cliente se preocupa com qualidade, portanto busca o preço menor. O mais relevante para a indústria é vender e fazer o produto funcionar pelo menos dentro do prazo de garantia. Brutal, não é?
Esta questão também atinge a indústria automotiva, embora com nuances. Neste ramo, a publicidade alveja o consumidor e demanda a aquisição do “carro do ano”, enquanto os componentes são fabricados nos países onde a mão-de-obra é mais barata. Ainda que se invista em segurança do condutor e tecnologia, as peças são maleáveis.
A durabilidade diminui ao ritmo em que aumentam as contradições do capitalismo.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em relações internacionais.