Enquanto em Três Lagoas o assunto mais comentado é o aumento da oferta de empregos por indústrias e prestadores de serviços, neste começo do ano; enquanto o governo estadual renova o compromisso de construir o Hospital Regional – uma obra muito aguardada na cidade; enquanto esportistas contam os dias para o início das Olimpíadas e uma boa apresentação do Misto na Segunda Divisão do Estado, entre outras expectativas, o projeto que recria a CPMF tendo como pano de fundo a recuperação da saúde pública vai sento tocado em um preocupante silêncio.
Nesta toada constante, iniciada com a revelação da quebradeira geral nas contas do governo Dilma, até o pedido de impeachment da chefe da Nação e o possível afastamento do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, tornam-se desvios da atenção para a criação do “novo” imposto.
É tão interessante ao governo e aos parlamentares favoráveis à CPMF que a atenção das pessoas seja desviada que o tema foi empurrado exatamente para esta época, quando se pensa mais em Carnaval que em outra coisa. O início dos jogos dos campeonatos estaduais também contribui favoravelmente ao governo, em casos assim.
O mecanismo de usar o tempo e os acontecimentos como ferramentas de desvio de atenção não é algo novo. Desde a ditadura, governantes esperam estrategicamente datas comemorativas, eventos e festas populares e até mesmo ocorrências políticas para aprovar medidas impopulares. Aumentar impostos, recriar CPMF é, para Dilma e boa parte do Congresso, a salvação das contas e da responsabilidade fiscal deste mandato. Para tributaristas – os mais sérios e desvinculados dos órgãos públicos, naturalmente -, recriar a CPMF será apenas um meio de custear erros cometidos pelo governo atual, por conta de sempre gastar acima da arrecadação e, de como diz a oposição, gastar mal. Para o cidadão, a volta do malfadado imposto do cheque é mais um espinho em sua coroa.
No país campeão de impostos, em que um cidadão é obrigado a trabalhar quase quatro meses do ano apenas pagar impostos municipais, estaduais e federais, recriar um tributo que incide em toda sua movimentação financeira é sacrificá-lo ainda mais. Em cascata, é fazer toda a máquina produtiva do país aumentar seus preços e repassar ao varejo. Ou seja, o cidadão que será obrigado a pagar imposto sobre sua movimentação financeira, também vai pagar mais caro pelo que compra. E, evidentemente, isto ocorrerá sobre os custos e preços de serviços.
Desta forma, está explicado porque o governo quer tanto se valer de datas popularmente mais atrativas para adotar uma medida tão impopular!
Só resta uma possibilidade de a CPMF não passar: o impeachment de Dilma. Se o Congresso decidir pelo fim do governo da presidente, a votação do novo imposto será cancelada seja por seu substituto, vice-presidente Michel Temer, ou qualquer outro governante. Contudo, a chance de Dilma escapar é tão grande como a possibilidade de deputados e senadores aprovarem a volta do imposto antes de decidirem sobre o impeachment. Até mesmo entre políticos de oposição, a volta da CPMF é bem vista, para desespero de quem acreditou que seriam mesmo oposição.