O estudo apresentado anteontem ao governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, por uma empresa especializada, sobre a “salvação” do transporte ferroviário de cargas no Estado, não esconde nenhum detalhe do que precisa ser feito – incluindo o pesado investimento de R$ 1,9 bilhão – para que indústrias e produtores rurais do Centro-Oeste não sejam prejudicados de maneira incomparável.
O levantamento não esconde que a sobrevivência do serviço depende de uma ação forte e definitiva para evitar o pior. E não se trata apenas de injetar recursos ou de negociar o modal com a iniciativa privada. Trata-se de uma ação política e de gestão, que parte do gabinete de Azambuja, passa pelas empresas e pelas fazendas e cai aqui, na economia de Três Lagoas, assim como em todas as demais cidades que carecem de mecanismos de escoamento de sua produção aos portos e aeroportos, de onde parte o produto nacional em busca de mercados consumidores.
O Mato Grosso do Sul poderia, hoje, já funcionar como um pivô central deste escoamento, com a intermodalidade do transporte de cargas, visto que, por exemplo, Três Lagoas possui ao menos quatro projetos emperrados pela burocracia, como o porto seco, o porto fluvial – e a natural utilização do rio Paraná para o transporte de Cargas – e a adequação do aeroporto de passageiros para cargas. Tudo isso, sem citar que a cidade possui um grande potencial para abrigar uma central de cargas em transporte ferroviário – o cerne do estudo entregue ao governador.
Não bastasse Três Lagoas ser uma capital industrial – especialmente da produção de celulose em nível mundial -, outras cidades sul-mato-grossenses também dispõem de condições para abrigar investimentos semelhantes. Bataguassu, por exemplo, possui o projeto da Zona de Processamento de Exportações (ZPE), que concentraria grande parte do envio da produção industrial da região para fora do País. A Capital Campo Grande possui outros projetos na mesma linha, com grande potencial para desenvolver tanto a indústria, quanto a agropecuária e o setor terciário e prestadores de serviços.
E o que acontece no Estado, no Centro-Oeste, com tantos projetos emperrados pela burocracia e por anos de estagnação? Não haverá outra resposta senão esta, de que o Mato Grosso do Sul precisa concluir o processo de industrialização de suas cidades e da modernização de regiões, como a Costa Leste, com o inevitável avanço da intermodalidade. O “salvamento” do transporte ferroviário é indispensável e não pode sair da agenda do governador.
E não é preciso ser nenhum especialista para citar que Três Lagoas e outras cidades do Estado poderão ainda atrair investimentos substanciais de empresas dos governos e da iniciativa privada, nos próximos anos.
Esta capacidade, que é a soma de fatores como mão de obra que se especializa a cada dia, terra fértil, clima apropriado para diversas culturas, lideranças locais e regionais com projetos de desenvolvimento etc., não pode ser emperrada pela burocracia, por entraves políticos e muito menos pela inércia – predicados negativos que não se vê no governo de Azambuja, felizmente.
O elo que falta para fechar esta corrente está, quem sabe, na demonstração de união de demais representantes públicos, como deputados, senadores, prefeitos e vereadores, aliados a entidades de classe e a empresários daqui e de fora. Nunca nenhum destes projetos sairá do papel se um governante desejar executá-lo sozinho. Isto é histórico e cultural no país, além de impraticável economicamente.
Na mesa do governador, portanto, está um dos rolamentos desta engrenagem: o transporte ferroviário fortalecido, modernizado e ampliado. Certamente o custo do projeto é uma das barreiras a serem vencidas, mas não será a única nem a última. Azambuja precisa da força política e do marketing do Estado para tocar o projeto junto ao Palácio do Planalto e para vender ainda mais a imagem de Mato Grosso do Sul entre empresários que possam investir aqui. E Três Lagoas não pode se furtar de sua obrigação de dar propulsão a isto, mesmo que seja apenas de apoio político.