Quem conhece Três Lagoas apenas de ouvir falar é certo que possui uma visão distorcida da realidade do terceiro maior município de Mato Grosso do Sul, em número de habitantes, e o segundo em orçamento. Quem conhece de perto e é obrigado, por exemplo, a transitar por ruas esburacadas e invariavelmente com poças d’água de chuva, sabe que os títulos citados não representam, hoje, muita coisa para o cidadão comum.
A fama da cidade em todo o país é a melhor possível. Centenas de pessoas chegam semanalmente em busca de oportunidade de trabalho, vendo em Três Lagoas um oásis de trabalho, nas empresas que se multiplicam ou que dobram de tamanho, como se o país não estivesse mergulhado em uma crise – política ou econômica, não se sabe – com fama mundial por sua produção de celulose.
É nessa esperança que desembarcam por aqui cidadãos e famílias inteiras que não encontraram mais o que fazer ou que viram as possibilidades de sobrevivência minguarem em suas cidades de origem. Parte deles cruza Estados e regiões inteiras para chegar aqui, atraídos pela fama de única cidade brasileira com mais de R$ 17 bilhões de investimentos projetados pela iniciativa privada.
E é certo mesmo que venham para Três Lagoas, que disputem vagas de trabalho, consumam e sustentem suas famílias. Afinal, há leis que protegem iniciativa do ir e vir pelos quatro cantos do país. Mas, e o que encontram quando precisam não só de emprego? Muitas delas são obrigadas a submeter-se a condições não muito favoráveis para morar. Parte é obrigada a sacrificar economias e até pegar reservas da família para custear o alimento. Mais ainda, são vistas como vítimas de exploradores de aluguel, de prestadores de serviços que não têm pudor em aplicar tabelas altíssimas e, ainda, receber favores em troca de trabalhar além da conta.
O pior, contudo, é saber que estas pessoas também são alvo de políticos-candidatos, que vivem à espreita de quem possam tragar para dentro de seus currais. E como fazem isso? Dando com uma mão agora e tirando com outra em épocas eleitorais. Estes são, assim, vítimas de projetos políticos e acabam por ter seus títulos de eleitor na alça de mira de quem já pensa nas eleições do ano que vem. E para todos os cargos.
Se não prometem emprego, arranjam casa para quem vem de fora; se não levam a um postinho de saúde na hora de uma dor de barriga, atacam o eleitor pelo estômago oferecendo cesta básica.
Para se constatar que pré-candidatos rondam filas de emprego em agências e em órgãos públicos basta dar uma passada, logo pela manhã, entre desempregados que chegam na cidade, atraídos pela promessa de melhorar de vida.
O duro é que estas pessoas saíram de suas cidades porque não tinham mais esperança e, quando chegam numa fila de emprego ou de mais desempregados, numa hipótese criminosa, são levadas a trocar de domicílio eleitoral para conseguir uma oportunidade de trabalhar ou de comer, prometendo voto em 2016. É o título de eleitor transformado em socorro presente numa hora de angústia.