Em época de crise, Três Lagoas recebe com entusiasmo a notícia de grandes investimentos para o setor privado. Mais de 16 bilhões de reais serão investidos no setor industrial em obras de ampliação de fábricas de celulose, entre outras que chegam ou também se ampliam. Simultaneamente, problemas de caráter social aparecem e se agravam. Três Lagoas, que nunca teve favelas, atualmente identifica dois desses núcleos de sub moradia, os quais atestam a necessidade urgente de se discutir os problemas sociais da cidade, que podem tomar proporções inimagináveis em consequência da vinda pessoas à procura de emprego em um momento que no país cresce assustadoramente. Somos mais de 8,2 milhões de desempregados, por conta da recessão econômica que inferniza os setores produtivos do país, e que deságua na falta de consumo, entre outros males que causa.
Recentemente, o Jornal do Povo alertou para fluxo de trabalhadores de outras regiões que para cá estão vindo em busca de emprego e dias melhores. Muitas pessoas estão chegando à cidade com suas famílias à procura de novas oportunidades, que não surgiram nas suas regiões de origem. De fato, Três Lagoas oferece perspectivas que outras cidades e regiões do país não oferecem. Somos um oásis.
Esse processo migratório vai se intensificar em cidades de médio porte com grandes investimentos, como é o caso de Três Lagoas. Percebe-se, que o poder público municipal não dá sinais de que está em estado de alerta. Atua judicialmente para preservar o patrimônio público, promove a desocupação de áreas por famílias que só têm a noite e o dia, mas não encara o débito social que está obrigado resgatar. Desde o ano passado, se arrasta o problema das famílias que invadiram terrenos da prefeitura na região da Vila Piloto. Na época, eram 60. Algumas deixaram o local por vontade própria, outras, por decisão da Justiça que tem o dever legal de ordenar a desocupação dessas áreas e fazer cumprir mandado judicial de reintegração de posse.
Atualmente, registra-se, aproximadamente 15 famílias ou mais, ocupando área pública na região da Vila Piloto, as quais saíram de uma área por determinação da Justiça, mas ocuparam outro terreno da prefeitura, mais outras, ocupando área da municipalidade na região da Vila Verde. Parece que o número de famílias é pouco, entretanto, este número pode ser o início do crescimento do número de famílias que podem chegar em Três Lagoas, sem moradia, quando as obras de ampliação das fábricas de celulose estiverem à todo o vapor. Hoje, aproximadamente, entre adultos, crianças e idosos, mais de 50 pessoas, estão nesta situação nas embrionárias favelas da Vila Piloto e Vila Verde, onde, uma das famílias é composta por oito pessoas, a maioria crianças e idosos.
A existência dessas famílias vivendo em barracos de lona, madeira, sem infraestrutura e saneamento básico mínimos acende a luz amarela para um problema que pode agravar o processo de “favelização”, conforme alerta da professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a doutora em Geografia, Édima Aranha. O fato é que Três Lagoas precisa definir uma política social e habitacional eficiente. Não basta somente retirar essas famílias desses terrenos, cuja providência, está correta, mas o município deve e está obrigado a encontrar uma solução para que esse problema não se alastre. Já que a Câmara Municipal não discute assuntos de relevância social, não pensa e nem apresenta propostas para melhorar a vida de Três Lagoas e seus moradores, resta como alternativa a instituição do Conselho Municipal da Cidade.