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Editorial: Sentindo a falta de lideranças

Afinal, a cidade se molda às exigências deste mercado de trabalho

É comum e absolutamente justificável a reclamação de trabalhadores três-lagoenses quanto à “exigência” da contratação de conterrâneos para as obras de ampliação das grandes empresas de celulose instaladas na cidade. Querem, e com razão, ter preferência na lista de pessoas que vão ocupar as vagas de trabalho nas obras e, evidentemente, na distribuição de funções das empresas, quando as expansões estiverem prontas.

As reclamações contra a falta de uma liderança local, que atue junto às empresas para que esta “preferência” seja garantida vem à reboque do desejo de encontrar trabalho. 

Os trabalhadores querem, evidentemente, que haja alguém com representatividade para atuar principalmente junto às empreiteiras que vão executar as obras para que deem preferência a gente daqui ou ao menos às que já moram na cidade. É preciso deixar claro que isto evitaria a repetição do êxodo que a cidade centralizou quando as empresas vieram para cá.

Com a falta desta liderança municipal, Três Lagoas corre o risco de sofrer novamente uma avalanche de trabalhadores de todos os cantos do país à procura de um bom emprego, de casas, de transporte, de hospitais, escolas para os filhos etc. Embora tudo isso esteja no contexto do progresso, o ideal é que seja aproveitada a mão de obra local e não se crie obstáculos à própria cidade. 

Não se pode esquecer da série de problemas e dificuldades que o desenvolvimento acelerado causou há alguns anos.  Um deles – e que acabou se transformando em um problema gigante – foi a elevação acentuada dos valores de aluguel residencial. Houve uma hiperinflação na cidade, com valores nunca vistos em nenhuma outra localidade e que têm reflexos até hoje. Não se aponta, assim, uma só vantagem que isto tenha trazido de forma perene à cidade. Ao contrário, transformou – ou ajudou a transformar – a economia três-lagoense em um obstáculo à permanência de grande parte das pessoas e empresas que foram atraídas à cidade. 

Não se desliga deste fator a evasão de divisas que a “inflação local” ocasiona. É fato que muitos moradores ainda continuam atravessando a ponte sobre o rio Paraná para fazer compras em cidades paulistas – Andradina e até Araçatuba – para tentar escapar desta “inflação particular”. 

Sem a atuação de uma liderança que vá buscar solução entre as empresas, é certo que a cidade irá passar por um período semelhante, agravado pela falta de capacidade de investimento de proprietários de imóveis para habitação popular e, evidentemente, incapacidade da administração pública de acompanhar a expansão urbana. Bairros que surgiram com a explosão de desenvolvimento da década passada ainda ressentem a falta de infraestrutura. 

Trata-se de assunto delicado que, se não tratado com cuidado, passa a impressão de que não se quer o desenvolvimento de Três Lagoas. Ao contrário, querer o desenvolvimento deve significar, também, desejar que venha acompanhado de um mínimo de condições às pessoas que já moram na cidade. Não é possível ensejar um crescimento desestruturado, que acarrete as dificuldades que se vê hoje, inclusive com altos prejuízos para quem investiu em bens imóveis no passado e que apostou na felicidade eterna. 

Voltando à reivindicação dos trabalhadores, é ainda necessário que as empresas que se instalam na cidade sejam conscientizadas de que a mão de obra local já provou ser suficiente para atuar na expansão destas empresas. Afinal, a cidade se molda às exigências deste mercado de trabalho. Três Lagoas não é, portanto, um oásis de desenvolvimento apenas de patrões e investidores. Possui, também, qualidade de sua gente – natural ou adotada.

O difícil é concluir que nenhuma liderança local tem condições ou desejo de interferir junto às empreiteiras para que contrate gente daqui. Todas as lideranças existentes parecem gostar mesmo é de camarotes, de onde aplaudem o desenvolvimento chegando e desfrutam de holofotes. Parece ser melhor correr atrás do prejuízo do que evitar que o mesmo ocorra.