Por No dia 30 de outubro de 2007, a FIFA oficializou o Brasil como país sede da copa do mundo de 2014, por meio de decisão unânime. Para tanto, o Brasil iniciou a escolha dos estádios para copa, lembrando que a escolha não foi baseada nos custos nem na utilidade dos estádios pós-copa.
Diversas foram as cidades mencionadas para ser sede, com propostas para os jogos e investimentos públicos e privados, visando uma “injeção” de imissão. Cidades com pouca participação no cotidiano do futebol nacional, mas com cultura e biodiversidade suficientes para ganhar a “competição”.
As escolhas foram feitas a partir do potencial turístico dos locais, gerando, assim, dúvidas referentes ao uso dessas obras pós-copa para que não se tornem “elefantes brancos”. Esta é uma expressão idiomática utilizada para se fazer referência a um custo (em especial o de manutenção) que é desproporcional à sua utilidade ou valor, especialmente para se referir a obras públicas sem utilidade.
Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, nome bastante emblemático no meio, apesar de ser dono de inúmeras denúncias de corrupção, é quem dá a palavra final na escolha das cidades-sede. Assim foram selecionadas 12 cidades, todas capitais de estados, sendo elas: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo.
Após a escolha surgiram questionamentos, primeiramente pelo grande número de cidades-sede, uma vez que na copa realizada na África do Sul foram utilizadas nove cidades para a realização do evento. O Brasil, país do futebol, tem nas diversas capitais vários estádios onde poderiam ser realizados os jogos, o que diminuiria custos. Porém, Ricardo Teixeira, com apoio do Estado, teve uma visão mais “interessante”: resolveu escolher cidades com maior potencialidade turística, ao invés de cidades que já estão pré-estruturadas para a copa.
Outro questionamento se levanta ao analisar as cidades-sede: Quem se beneficiará com a copa de 2014 no Brasil?
Com certeza a população da cidade de Manaus espera que a visão de Ricardo Teixeira esteja certa, e os investimentos na urbe melhorem a qualidade de vida, pois um estádio é, hoje, o que Manaus menos precisa.
Por outro lado, na sociedade, empreiteiros lucram com a construção dos “elefantes brancos”, começando do zero. Construções gigantescas e que recebem mais dinheiro público de caráter de emergencial, pois as obras estão atrasadas.
Os apaixonados pelo futebol podem ficar despreocupados, pois a copa de 2014 será realizada no Brasil, contudo, não se sabe o que vai acontecer com as obras “Faraônicas” pós-copa. Será que o Brasil está fazendo um bom negócio? Investindo bilhões em obras para receber em menos de um mês dólares do turismo? E logo após o evento, gastar milhões para a manutenção dos elefantes brancos?
Falando em dinheiro, será que a população Brasileira irá assistir aos jogos da copa nos grandes “elefantes brancos”, pois, a FIFA, quer intervir na legislação do país, acabando com o direito concedido aos idosos de pagarem meia-entrada, como previsto no estatuto do idoso, bem como o desconto concedido aos estudantes.
Todo esse dinheiro poderia ser investido em saneamento básico, já que metade das cidades-sede sofre com este preocupante problema. Muito se fala em relação aos benefícios que a copa trará, porém, se esquecem do ônus do evento, tal como a inflação do preço dos imóveis entre outros… Efeitos que podem ser percebidos por meio das inúmeras greves que vêm ocorrendo, resultado da inflação crescente antes mesmo da copa.
Segundo o instituto TRATA Brasil, quatro das cidades-sede: Manaus, Recife, Natal e Cuiabá, são as que mais sofrem com a falta de saneamento. Foram analisados dados de 2009, que apontaram os piores índices de saneamento básico: menos de 40% do esgoto coletado.
A maior aposta de Ricardo Teixeira é a cidade de Manaus. E é a mais preocupante, pois apenas 12% contam com a coleta de lixo e apenas 38% do esgoto é tratado. Números extremamente significativos em relação a outras cidades-sede, como Curitiba que tem 87% de seu lixo coletado e trata 83% do seu esgoto. Dessa maneira, fica certo que o país terá mais custos pós-copa, já que os problemas de primeira necessidade não foram resolvidos.
Mas o atestado de incompetência administrativa não acaba em 2014. Lembrando que em 2016 o Rio de Janeiro será sede das Olimpíadas, continuando, assim, um ciclo de grandes eventos no país que acarretarão ainda mais dificuldades na vida dos brasileiros. Portanto, deve-se perguntar: Será que o dinheiro público é gasto com mais responsabilidade e compromisso? Pense nisso!
Nayla Furlan da Silva é acadêmica do curso de Administração da UFMS
Diego Gilberto Ferber Pineyrua é administrador e professor mestre da UFMS