Longe disso! A intenção não é questionar e comparar dicção, aparência, roteiro ou timbre de voz dos três candidatos ao Planalto. Aliás, todos eles deixam muito a desejar em termos de comunicação verbal. Parecem calouros se comparados com Fernando Collor, por exemplo.
Eleição sem discursos distintos e arrojados, perde o brilho. O discurso é uma somatória: deve sinalizar o plano de governo, ressaltar as mudanças pretendidas, sensibilizar o eleitor através da emoção, levá-lo inclusive à reflexão, mostrando o perfil do candidato e induzindo o eleitor a comparação com os concorrentes.
O discurso é uma faca de dois gumes: pode atrair ou espantar o eleitorado. Vai depender de uma série de fatores que exige a leitura precisa do momento da vida nacional e da própria campanha eleitoral, onde os movimentos dos adversários devem ser monitorados todo tempo.
Evidente que essa eleição difere das anteriores por várias razões: o fator Lula, o enfraquecimento dos partidos vinculados ao capitalismo (direita-centro), o cenário econômico local e a mesma origem (social democracia) de Dilma, Marina e Serra. É essa ausência de singularidade nas propostas – e o excesso de exposição técnica – que acabam ofuscando a construção de um discurso contundente que possa tocar a alma do eleitor.
“Ainda é cedo, estamos longe da campanha” – diriam alguns. Todo bem! Mas é inegável que a ação dos candidatos têm se pautado mais pela cautela do que pela ousadia. Dilma – sem discurso próprio, ampara-se na muleta dos números indicativos do Governo Lula, e nada mais. Serra – também não empolga, não conseguiu corporificar a imagem de oposicionista, disposto a vencer ou morrer, bem a gosto do eleitor! Marina – permanece refém de seu passado partidário, pálida, sem argumentos que possam alargar sua trilha eleitoral. A tendência é perca ainda mais seu espaço no decorrer dos embates.
Neste cenário passivo, até parece que não existem temas a debater, problemas graves na saúde, previdência, segurança, educação e transportes. Sem contar as imperfeições das leis tributárias e eleitorais, cujas reformas são proteladas em prol do insaciável Governo. Cá entre nós: que falta faz aquele discurso contundente do Brizolla, empolgando platéias e acertando na veia dos adversários. De leve…
Manoel Afonso