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Eleições: o que o Brasil tem de pior

Deveria ter sido o contrário. Um momento para se discutir os grandes desafios do Brasil.
Mas a eleição de 2010 foi, até aqui, um festival de incongruências e enganações.
É o grande paradoxo do Brasil: o país tem eleições livres que coroam um período de realizações importantes, com um futuro promissor.
Mas o momento cívico maior só revela, mais uma vez, o que o país tem de pior.
Movida a gastos públicos insustentáveis, a economia brasileira deve crescer também insustentáveis 8% neste ano. A poupança para controlar a dívida pública está comprometida pela sanha gastadora. Tudo para aprofundar a sensação de bem estar dos eleitores e a popularidade de Lula e de sua candidata.
Ao final do processo, ficamos sabendo que a mulher de confiança de Dilma Rousseff na Casa Civil, Erenice Guerra, era o gancho de um enorme cabide de empregos de seus parentes. Alguns trabalhando em negociatas corruptas dentro do Palácio do Planalto.
A revelação do caso gera ataques furiosos de Lula e Dilma à imprensa. Como se os jornais tivessem inventado tudo. Para completar, Lula diz que gostaria de exterminar um partido de oposição ao seu governo, o DEM.
Na oposição, o principal candidato, José Serra (que vive criticando a "farra nos gastos públicos") promete reajustar para R$ 600, sem mais nem menos, o salário mínimo. Pela regra em voga, o aumento seria quase zero, mas ele promete 18%.
Sem saber do que falava, mas também atrás de votos, Serra disse ainda que o aumento do mínimo elevaria o número de pessoas elegíveis para o Bolsa Família. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O mínimo nunca (nem no governo FHC) foi parâmetro para esse tipo de benefício social.
No final, Serra é pego telefonando para um ministro do STF, Gilmar Mendes, para falar sobre a obrigatoriedade de se levar dois documentos para a seção eleitoral neste ano. O ministro adia a votação, cujo desfecho não interessava aos tucanos.
O STF e o TSE deixam decisões cruciais para a undécima hora. A da obrigatoriedade dos dois documentos caiu na semana final da eleição. A decisão sobre contabilizar ou não os votos dos "fichas-sujas" ficou para depois.
Toda a configuração do Congresso pode ser alterada no futuro, assim como o peso dos partidos na Casa. Numa confusão digna de uma República de Bananas.
No mais, a Justiça em vários Estados ajudou a censurar notícias, a circulação de jornais e a divulgação de pesquisas eleitorais.
Isso tudo sem falar de Tiririca e Mulher Pêra. Ou de candidatos como Dilma, Quércia, Aloysio Nunes e Roriz que dizem guardar milhares de reais em casa sem nenhuma explicação plausível ou lógica.
Ao final, nada sobre infraestrutura, deficit gigantesco nas contas externas, dólar em baixa matando indústrias ou boas propostas para grandes problemas. Difícil esperar um segundo turno mais edificante e honesto.

Fernando Canzian é repórter especial da Folha