Não é segredo que a qualidade do ensino ministrado nas escolas da rede pública não vai nada bem. Tanto no ensino fundamental como no médio, as queixas são inúmeras e vêm de todos os lados – pais, alunos, professores e, porque não dizer, da comunidade em geral. Os números que surgem em variadas pesquisas comprovam o mau momento. Um levantamento recente, por exemplo, revela que 75% dos professores que dão aula do 5.º ao 9.º ano do ensino fundamental público desenvolvem menos de 80% do conteúdo que deveria ser trabalhado em cada série. Esses dados foram obtidos por meio de um questionário da Prova Brasil – exame federal que avalia a qualidade da educação pública.
Sem o conteúdo integral, os alunos ficam com defasagem na matéria e isso se reflete nas avaliações que medem a qualidade do ensino. Na edição de 2009 da Prova Brasil, apenas 34,2% dos alunos apresentaram conhecimentos satisfatórios de língua portuguesa após concluir a 5.ª série. Já em matemática, o índice foi ainda pior: 32,5%. O problema avançou ainda mais na 9.ª série, que marca o fim do ensino fundamental. Os índices foram de 26, 2% para português e apenas 14,7% para matemática.
As causas, sabemos, são múltiplas. Não se trata apenas de culpar os professores. Mas a formação deficiente dos docentes, a falta de acompanhamento pedagógico da escola e a necessidade de um currículo que priorize os conteúdos mais importantes revelam a falta de planejamento da política educacional. Para melhorar a caótica situação, devem ser oferecidos cursos com projetos pedagógicos eficientes e inovadores, e com utilização de tecnologias avançadas e acessíveis aos alunos, que permitem trazem à sala de aula o que há de mais moderno nas especialidades, com um enfoque não apenas teórico. Quantas escolas têm laboratórios e não possuem equipamentos para aulas práticas? E pior: quantas têm estrutura, mas não a utilizam por falta de criatividade ou conhecimento dos docentes?
Sem dúvida, o poder público deve investir na formação e na carreira dos professores, com salários condignos, cursos de reciclagem e aperfeiçoamento. Mas isso não basta. É apenas um atalho para a correção de distorções seculares, reflexos de políticas públicas equivocadas e da falta de prioridade à questão educacional.
Luiz Gonzaga Bertelli é presidente Executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.