Acho infundado qualquer comentário no sentido de quem tem “vergonha de ser brasileiro”, uma vez que há indivíduos que também envergonhariam outros de ser estadunidenses, franceses ou italianos. Não podemos sacrificar a maioria por causa de alguns maus exemplos devido a que, em nenhuma sociedade, temos as mesmas motivações. Em vez de amargurar e ceder, por que não considerar os esforços vultosos que se desprendem para desenvolver o Brasil e outros aspectos positivos?
O envio de lixo de países desenvolvidos para o seu despejo nos subdesenvolvidos não é uma prática recente. Países da América do Sul, África e Ásia já a conhecem de longa data porque muitos não tomam medidas punitivas para que não sejam reconhecidos como lixeira do mundo. Ainda mais nesta era em que se propaga um padrão consumista e o velho substitui-se cada vez mais rápido pelo novo, como noutra ocasião desdobrei no texto “Durabilidade”.
Um tema inquietante. Nos portos de Rio Grande (RS) e Santos (SP), encontrou-se uma quantidade enorme de lixo que saiu da Inglaterra sob o manto de produto para reciclagem a ponto de lotar vários contêineres. Flagraram-se, no segundo, 16 contêineres com 290 toneladas de lixo.
Tratava-se, no entanto, de restos de alimentos, cabos de computador, embalagens sujas de produtos de limpeza, fraldas e travesseiros usados, tapetes rasgados, entre outros produtos entendidos como lixo comum.
Estima-se que mais de mil toneladas de lixo chegaram ao Brasil desde fevereiro provenientes da Inglaterra, o que tem provocado reações calorosas de reprovação na sociedade brasileira. De duas, uma: ou as empresas envolvidas em Rio Grande sofreram um golpe dos britânicos, que não teriam enviado o combinado, ou elas estão envolvidas num esquema de descarte internacional de resíduos. Fatos e rumores corroboram que não é a primeira vez que isto acontece.
Embora seja difícil culpar o governo inglês sem antes proceder com a investigação, é improvável que estes contêineres tenham deixado a Inglaterra sem alguma fiscalização. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a quem se fez a denúncia de que o material trazido correspondia a lixo em vez de material reciclável, exigiu o retorno do navio com a carga e determinou multa de R$150 mil a ser paga em valor igual tanto pela importadora como a transportadora.
Não creio que o Brasil seja condescendente com estas práticas humilhantes e ilegais que têm origem num estereótipo de subdesenvolvimento submisso que lutamos para deixar atrás. Este flagrante de lixo no Porto de Santos em início de julho e a repercussão que o acontecimento teve nos meios é um sinal de que temos muita gente que não só acredita neste país como também luta por ele.
Estou convicto de que o lugar do Brasil – e espero que num futuro próximo – é como exemplo para o mundo: espiritual, moral e material. O país tem dado mostras de intolerância às ervas daninhas, de avanços científicos e tecnológicos em áreas diversas, de desenvolvimento sustentável e responsabilidade com o meio ambiente e o ser humano. Embora tenhamos avançado nestes campos, ainda falta muito e isto só nos entusiasma. A encomenda que não serve mandamos de volta.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais