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Opinião

ENEMbaraçoso

Que situação ridícula! Triplamente embaraçosa, para dizer o mínimo. Pelo terceiro ano consecutivo, o Ministério da Educação não consegue realizar com decência, decoro e transparência o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em meio a uma grave crise institucional e um leque interminável de denúncias de corrupção que já derrubaram 6 ministros em apenas 10 meses de governo, a presidente Dilma Rousseff agora é chamada a se manifestar sobre a vergonha protagonizada pelo ministro petista Fernando Haddad, uma herança do ex-presidente Lula e que há algum tempo só consegue pensar na possibilidade de se tornar prefeito da maior cidade do Brasil. O que dona Dilma tem a dizer sobre isso?
 
Depois de dois escândalos que macularam a credibilidade do exame em 2009 e 2010, o MEC chancelou sua total incapacidade de gerenciar esse processo. Tão logo terminaram as provas, alunos do Ceará partiram para as redes sociais e denunciaram o fato de que várias questões aplicadas nas provas do ENEM eram absolutamente idênticas às das apostilas distribuídas por sua escola dias antes do exame. Imediatamente, a imprensa verificou a denúncia. O Ministério Público Federal pediu anulação total das provas. Só dias depois, Haddad veio a público, obrigado a confirmar que, mais uma vez, o ministério sob sua tutela permitiu fraudes no processo. Por quê? Porque o Brasil permitiu se tornar isso: uma confusão institucionalizada, um embaraço.
 
Para tentar amenizar o escândalo e não comprometer suas pretensões de candidatura a prefeito de São Paulo (a única real preocupação), o ministro Fernando Haddad tratou de minimizar o caso e dar início à estratégia de encontrar um culpado localizado em Fortaleza e reter o cancelamento à circunferência dos 639 estudantes do colégio cearense Christus, onde foi efetivamente comprovada a fraude. Segundo Haddad, alguém dessa escola conseguiu copiar 2 dos 32 cadernos de provas de “Pré-Testes” realizadas em 2010 e divulgou as questões em uma apostila apenas para os alunos do famoso colégio particular do Ceará. Em suma, querem liquidar a questão afirmando que um professor de caráter duvidoso é o responsável pela sacanagem de 2011 no ENEM.
 
Entretanto, a estratégia do ministro Haddad e de sua equipe é péssima. Ao afirmar que a fraude aconteceu durante a realização dos “Pré-Testes”, o Ministério da Educação confirma, por consequência, que em pelo menos 14 questões, os especialistas responsáveis pela elaboração das provas não tiveram o trabalho de alterar sequer suas informações e resultados apresentados aos alunos “pré-testados” em 2010. Ou seja, por baixo, o órgão gastou quase R$ 400 milhões (sem licitação!) para que os organizadores simplesmente “xerocassem” questões pré-existentes e já aplicadas a cerca de 100 mil alunos de todo Brasil. Mas a tentativa de colar na testa do brasileiro o adesivo de otário não para aqui!
 
Vejamos o absurdo: supondo que a versão apresentada pelo ministro Fernando Haddad seja aceita, estaremos acreditando que uma pessoa conseguiu a proeza de furtar e copiar o conteúdo de 2 dos 32 cadernos (ou seja, 768 itens) e de acertar exatamente 14 questões de um universo de 20 mil que constam no banco de dados. Ou seja, esse suposto “malfeitor” cearense é praticamente um Herculano Quintanilha! Ao invés de roubar umas provinhas e fraudar o ENEM, esse cara deveria jogar mais na Mega Sena! Sua probabilidade de acertar um prêmio acumulado é bem maior que acertar à perfeição quais serão as questões do Exame Nacional. O ministro Haddad espera que acreditemos em mais essa lorota federal.
 
Mas vamos e convenhamos: o que esperar de um Ministério que pretende firmar a ideia de que a expressões como “as pessoa tudo”, “os prato nas mesa”, “os peixe que nós pesca” não estão erradas e são, na verdade, máximas de identidades regionalistas, vítimas de secular preconceito social? O que esperar de um projeto de poder (des)educacional que permite a impressão de milhares de livros (pagos com o dinheiro dos nossos impostos) onde uma pseudomatemática pretende ensinar que 7-3=5? O que esperar de um órgão cujo titular da pasta não se preocupa mais com suas atribuições constitucionais, passando a verter toda sua atenção apenas para uma pré-candidatura à prefeitura de São Paulo e que se dane a Educação do país?
 
Pretender que o Ministério da Educação realize uma avaliação em nível nacional com uma mínima competência parece algo impossível. Não deveria ser, mas é assim. No Brasil da bandalheira, da impunidade e da falta de vergonha na cara, parece não existir um único órgão da administração federal que não esteja contaminado pela corrupção, pelos desvios e agora pelos ditos “malfeitos”, como gosta de dizer dona Dilma. O pior é saber que nenhum dos “malfeitores” é punido, julgado, condenado ou tão somente banido das funções públicas. Muito pelo contrário. O próprio eleitor vai às urnas e reconduz esses seres bandidos aos Palácios, legitimando-os voto por voto. Então, reclamar de quê? Esperar o quê? Só posso crer que o povo brasileiro também é sacana, também é safado. Afinal, são com nossos votos que eles estão lá! Quer coisa mais “ENEMbaraçosa”!

Helder Caldeira é escritor e jornalista político