O que será que pensa uma pessoa que envenena uma árvore? Acho que não pensa muito. Será que ele já havia pensado em envenenar o cachorro e a sogra? Talvez sim, mas foi mais fácil envenenar a árvore mesmo. Então, passou pela minha cabeça quais razões levariam alguém à prática tão grotesca. Será que algum desgosto familiar, alguma mácula com o chefe ou discussão no trânsito, porque o filho não passou na escola ou descobriu que sua mulher anda saindo demais de casa… Enfim, não consegui apurar uma razão que fosse lógica para se chegar ao ponto de matar uma árvore. Há muita gente que mata sua árvore porque provoca muita sujeira na sua calçada e, por consequência, usa demais a vassoura ou porque o vizinho estaciona o carro todos os dias debaixo dela e isso o incomoda. Mas, não é só isso. Penso mais e acredito mesmo que muita gente não gosta de si próprio. Quem enxerga uma árvore desta forma, como um inimigo, com certeza não gosta dele mesmo. Com certeza, vive uma vida de ermitão, desprezado pelos outros. Certamente, sente-se solitário na escuridão de seu quarto e não tem bom juízo. Por tudo isso, deve encher a cara para passar o tempo, bater e xingar os filhos vez ou outra, brigar com a mulher porque o feijão está muito escuro ou esbravejar com todos que não gostam dele. Esse relato é verdadeiro, pois há muita gente descontente com a vida que procura descontar suas mágoas nas pessoas, no cachorro e na árvore. Esta última, dentre as coisas belas, uma das mais belas realizadas pelo divino. Mãe natureza, faça com que tais pessoas sejam melhores consigo próprias para que permitam que você exista por um bom tempo.
Antonio Carlos Garcia de Oliveira
Promotor de Justiça do Meio Ambiente